sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Dalva e Herivelto, uma canção de amor

Passional talvez seja a palavra que melhor define a história de Dalva de Oliveira e Herivelto Martins. Ela, uma grande cantora, e ele, um compositor notável, viveram uma relação intensa e verdadeira, nos palcos e na vida.

Na minissérie ‘Dalva e Herivelto, uma canção de amor’, a autora Maria Adelaide Amaral conta, em cinco capítulos, a história destes dois ícones do samba-canção brasileiro, que marcaram época com suas vozes, letras e conflitos conjugais. “Para um escritor, é uma história irresistível, pois tem todos os ingredientes: paixão, traição, ciúme, agressão e momentos de alta dramaticidade”, diz a autora.

A história se constrói a partir de um retrospecto da vida do casal, começando em 1972, com Dalva de Oliveira já no leito de morte, sonhando com a visita de seu ex-marido e grande amor, Herivelto Martins. A partir de então, os dois personagens, que na trama são interpretados pelos atores Adriana Esteves e Fabio Assunção, relembram os principais acontecimentos que ocorreram desde que se conheceram, em 1936, no Teatro Pátria, no Largo da Cancela em São Cristóvão.

A obra de ficção está baseada em fatos reais e mostra como este encontro entre os dois mudou substancialmente o curso de suas vidas, bem como marcou a história da música popular brasileira. Os treze anos de casamento e os desentendimentos que ganharam ênfase com a separação contribuíram para uma arrebatadora produção artística e cultural, que será retratada na minissérie.

O desafio de colocar na tela a história, que se passa em cinco diferentes décadas, fica a cargo do diretor de núcleo Dennis Carvalho. “As pessoas que ainda estão vivas e conviveram com o casal nos ajudaram muito. O difícil foi achar lugares no Rio de Janeiro que ainda conservem a arquitetura deste período. Mas, no final, ficou muito bonito”, conta Dennis.

‘Dalva e Herivelto, uma canção de amor’, de Maria Adelaide Amaral, com a colaboração de Geraldo Carneiro e Letícia Mey, e direção de núcleo de Dennis Carvalho, estreia dia 04 de janeiro de 2010.

A ÉPOCA DE OURO DO RÁDIO

Apesar de a Segunda Guerra Mundial ter manchado as décadas de 30 e 40, no Brasil, principalmente em sua capital, Rio de Janeiro, vivia-se tempos áureos. “Havia uma euforia muito grande do jogo, os cantores da época aproveitavam e ganhavam dinheiro. Mesmo com a política fervendo, esta foi uma época de sonhos”, diz a produtora de arte Ana Maria de Magalhães.

O Cassino da Urca e a Rádio Nacional eram espaços muito badalados, que esbanjavam glamour. Por estes palcos, passavam personalidades internacionais e também eram projetados talentos artísticos que se tornaram inesquecíveis. A rádio nas décadas de 40 e 50 exercia fascínio semelhante ao da televisão atualmente, e desempenhou um papel fundamental ao revelar cantores, conjuntos vocais e comediantes que animavam a vida da família brasileira. “A Rádio Nacional foi o maior celeiro de talentos musicais e humorísticos das décadas de 40 e 50 no Brasil”, conta Maria Adelaide.

Esta é a atmosfera que será resgatada na minissérie, ambiente que fez crescer Dalva de Oliveira e Herivelto Martins. Mesmo que, na década de 60, a chegada da televisão tenha significado a decadência para os cantores de rádio, o casal já havia deixado seu legado marcado na história da música popular brasileira.

A MINISSÉRIE

O INÍCIO DE TUDO

Dalva de Oliveira nasceu Vicentina, seu nome de batismo. Mas, segundo sua mãe Alice, interpretada na minissérie por Denise Weinberg, Vicentina não era nome de estrela, Dalva sim. Ela nasceu em Rio Claro, interior de São Paulo, e, após a morte de seu pai, se mudou para a capital do estado com a mãe e suas três irmãs menores. Foi no Rio de Janeiro, porém, que se consolidou profissionalmente, já ao lado de Herivelto Martins. “Ela era uma mulher aberta, simples e verdadeira. Estou apaixonada pela história de Dalva”, declara Adriana Esteves.

A história do casal começou em 1936, quando Herivelto assistiu a uma apresentação de Dalva, no Teatro Pátria. Herivelto se encantou pela jovem e fez dela sua grande criação.

Dalva uniu-se à dupla Preto e Branco, composta por Herivelto Martins e Nilo Chagas, interpretado na trama por Maurício Xavier. O grupo logo ganhou o título de “Trio de Ouro” do radialista César Ladeira, vivido pelo ator André Correa.

O TRIO DE OURO

Após o sucesso do primeiro disco, “Itaquari”, o trio gravou “Ceci e Peri”. Foi quando Dalva descobriu estar grávida. Para delírio dos fãs, a escolha do nome de seu filho foi feita por votação na Rádio Mayrink Veiga. O eleito para seu primogênito foi Pery, interpretado por Gabriel Moura quando adolescente e por Thiago Fragoso na vida adulta. O casal teve ainda um segundo filho, Ubiratan, vivido na trama em duas épocas distintas por Yago Machado e Thiago Mendonça.

Com uma agenda lotada de shows, o casal conquistou fama e dinheiro. O trio chegava a cantar em uma só noite no Cassino da Urca e no Cassino de Icaraí, em Niterói, a tempo de retornar para uma última apresentação no primeiro local.

Ao logo de toda a sua trajetória, o “Trio de Ouro” teve mais de 200 músicas conhecidas e cantaroladas por seus fãs. A bem sucedida união resultou também em 99 discos emplacados pelas gravadoras Odeon, Victor e Columbia; e dominou os maiores sucessos do samba-canção.

O excesso de trabalho nunca foi motivo de reclamação. Ao contrário, tudo era pretexto para cantar, beber e celebrar. O casal fazia parte do grupo das maiores estrelas da época, formado, entre outros, por Grande Otelo (Nando Cunha), Linda (Cláudia Netto) e Dircinha Batista (Luciana Fregolente) e Marlene (Rita Elmôr). Coristas, bailarinos, cantores, todos frenquentavam a casa do casal. “Nas festas depois dos shows, Dalva fazia macarrão e todo mundo ficava ali, compondo e se divertindo”, conta Fabio Assunção.

DALVA E HERIVELTO

Herivelto cuidava nos mínimos detalhes de sua estrela. Era ele quem escolhia as roupas, penteado, repertório e parcerias de Dalva de Oliveira. E ela brilhava cada vez mais. Era o ouro do “Trio de Ouro”.

Se, profissionalmente, Herivelto era um parceiro dedicado e preocupado com Dalva, na intimidade, este zelo com a esposa não existia. Quanto maior a fama, maior eram as desavenças entre os dois. Galanteador, ele costumava seduzir as mulheres bonitas que encontrava pela frente. Dalva, por sua vez, enlouquecia de ciúme e se entregava à bebida.

Herivelto tinha relacionamentos extraconjugais, mas nunca perdia o rumo de casa. As brigas eram frequentes, mas as reconciliações também. Isto até Herivelto conhecer Lurdes Torelly, interpretada na minissérie por Maria Fernanda Cândido.

Foi a bordo de um avião que Herivelto viu pela primeira vez a mulher com quem se casaria e por quem deixaria Dalva. O encanto inicial pela comissária Lurdes só não foi tão grande quanto o empenho de Herivelto em conquistá-la. Divorciada e com um filho, Lurdes não queria problemas. Ela conhecia a fama de conquistador de Herivelto e sabia que ele era casado.

Por Lurdes, Herivelto mudou seu comportamento. Passou a dar assistência e visitar os filhos que teve com sua primeira mulher. E, após inúmeras serenatas, canções, poemas, e, principalmente, uma real mudança de postura, o compositor convenceu Lurdes de que seu amor era verdadeiro. Dalva percebia, então, que seu casamento desta vez havia acabado e que seu marido tinha realmente se apaixonado por outra.

O FIM DO CASAMENTO

Sabendo que a separação com Dalva certamente significaria o rompimento do “Trio de Ouro”, Herivelto vivia um dilema: queria se casar com a aeromoça, mas precisava do dinheiro que ganhava com o sucesso musical. Dalva, por sua vez, via neste impasse uma chance de reconquistar o grande amor de sua vida.

A gota d’água para o fim do casamento profissional e pessoal foi uma viagem à Venezuela. Convidado por Dercy Gonçalves, interpretada por Fafy Siqueira, o “Trio de Ouro” participou de apresentações em Caracas, em 1949. O resultado foi desastroso, tanto do ponto de vista financeiro, quanto do artístico. A tradicional platéia estrangeira

repudiou as ousadas apresentações de Dercy, e Dalva de Oliveira e Herivelto Martins romperam de fato o relacionamento. Era o fim do “Trio de Ouro”, pelo menos em seu formato original. Mais tarde, Herivelto tentou recuperar o grupo com outras formações, porém nunca mais alcançou o sucesso que teve ao lado de Dalva e Nilo Chagas.

UMA BATALHA MUSICAL

Sozinha e com uma saudade dilacerante do passado, Dalva deu início a sua carreira solo. E provou porque era considerada o ouro do trio. Dalva era novamente um fenômeno musical com as canções que gravava.

Este sucesso, porém, despertou a inveja e o ódio de Herivelto. “Ele amava Lurdes, mas Dalva era sua criação e o sentimento de posse, pessoal e artística, nunca o abandonou”, comenta Maria Adelaide. Ofendido, o compositor inaugurou uma verdadeira guerra musical, em que Dalva e Herivelto se acusavam publicamente pelo fracasso do casamento.

A briga entre o casal influenciou diretamente a vida de seus filhos, que, por um mandado judicial, foram obrigados a se instalar em um internato. Influenciou também a vida dos fãs, que se dividiram.

E a culpada foi ela
Transformava o lar na minha ausência
E qualquer coisa abaixo da decência
compreendi que estava tudo errado
e amargurado parti perdoando o pecado
mas deixei o meu caminho certo
e a culpada foi ela

(Caminho Certo, de Herivelto Martins e David Nasser)

Errei sim,
Manchei o teu nome
Mas foste tu mesmo
O culpado
Deixavas-me em casa
Me trocando pela orgia
Faltando sempre
Com a tua companhia.

(Errei sim, de Ataulfo Alves, cantada por Dalva)

Como se não bastassem as músicas, Herivelto publicou 22 artigos no periódico ‘Diário da Noite’ que insultavam e difamavam a cantora. Mas o feitiço virou contra o feiticeiro.

Herivelto foi punido pela opinião pública e a carreira de Dalva só ascendia. As mulheres brasileiras projetavam na cantora seus dramas pessoais e a apoiavam. Suas canções conquistavam as principais paradas de sucesso e Dalva foi eleita, em 1951, a Rainha do Rádio. O show business no Brasil nunca havia visto nada igual.

Mas, o coração da cantora continuava destroçado...

A DECADÊNCIA DE UMA ESTRELA

Dalva tentou se reestabelecer na vida amorosa. Se casou duas vezes, mas nunca mais se apaixonou de verdade. A estrela foi se apagando aos poucos e trocando os palcos pelo álcool. Bebia cada vez mais e trabalhava cada vez menos. “Os cantores que não se adaptaram à bossa-nova foram entrando em declínio, gastando muito dinheiro”, conta Ana Maria de Magalhães.

Em 1965, um acidente de carro deixou a cantora meses no hospital e, entre outros traumas, resultou em uma cicatriz em seu rosto. O trabalho tornava-se cada vez mais escasso, e o dinheiro também.

Longe das grandes plateias e casado com Lurdes, com quem teve três filhos, Herivelto arrumou um emprego público, fez shows com sua escola de samba e dirigiu o centro espírita que fundou. E nunca mais procurou Dalva.

Em 1972, Dalva de Oliveira morreu vítima de um câncer. “O Brasil perdeu sua maior cantora. Jamais teremos uma intérprete como ela. Dalva era amiga e mãe dos meus meninos, lamento mais do que qualquer pessoa a morte dela”, declarou Herivelto Martins quando procurado por jornalistas.

A PESQUISA

Antes que os capítulos fossem escritos, foi realizada uma intensa pesquisa sobre a vida de Dalva e Herivelto. O trabalho das pesquisadoras Letícia Mey e Madalena Prado começou em abril de 2009. A primeira etapa foi recolher toda a bibliografia possível, em arquivos de jornais, revistas e da família. Além de biografias dos personagens. “Usamos não só as biografias dos personagens principais, mas também de outras personalidades da época, como Grande Otelo, por exemplo”, diz Letícia Mey.

A correspondência amorosa trocada entre Herivelto e Lurdes também foi fundamental para esclarecer a separação dele com Dalva. Foram igualmente levantados todos os artigos da série "Por que deixei Dalva de Oliveira", que Herivelto escreveu na coluna do jornalista David Nasser logo após a separação, bem como as matérias polêmicas publicadas no período sobre o divórcio litigioso do casal.

A pesquisa áudio-visual, feita por Madalena Prado, reuniu fotos de Dalva e Herivelto e gravações da época. “Utilizamos inúmeros acervos, como o da Cinédia. Obtivemos também os depoimentos em áudio de Herivelto, Dalva e Grande Otelo gravados pelo Museu da Imagem e do Som”, conta Letícia.

Amigos e familiares dos protagonistas também foram entrevistados para a composição da minissérie. “Conversamos com filhos, parentes, amigos, conhecidos dos personagens principais e de muitos dos personagens de menor destaque também. Com os filhos, em especial Yaçanã, Bily e Pery, falamos inúmeras vezes, alguns períodos até quase que diariamente”, explica Letícia.

RECONSTRUINDO AS DÉCADAS

Para resgatar o ambiente retratado pela minissérie, Ana Maria de Magalhães e sua equipe realizaram uma pesquisa que resultou em um livro sobre as décadas de 30 a 70, que foi distribuído para as pessoas envolvidas no projeto. No livro, comparam-se os acontecimentos mundiais com os brasileiros e a história do casal. “Apesar de serem apenas cinco capítulos, são muito detalhados. Maria Adelaide conseguiu contar quase toda a vida de Dalva e a história não é nem convencional, nem sofisticada. Contar a trajetória de pessoas que nasceram e moraram em cortiços, pobres, e que foram melhorando conforme foram alcançando o apogeu, é muito difícil”, conta a produtora.

Para retratar o início da carreira de Dalva e Herivelto, quando moravam em um cortiço e dividiam o quarto com o amigo Nilo Chagas, a produção de arte usou roupas, móveis e baús bem envelhecidos. “Procuramos objetos no acervo da Globo e também em antiquários. Fizemos colchões antigos, de crina, e os forramos com panos listrados. Para dar um aspecto de ‘usado’, usamos café e banhos de chá, que criam uma coloração de envelhecimento”, explica Ana Maria de Magalhães.

O sucesso financeiro e artístico do “Trio de Ouro” poderá ser visto em pequenos detalhes e grandes ousadias. “Era uma época de grandes faustos”, diz a produtora Ana Maria de Magalhães. “Mesmo Dalva não sendo uma pessoa sofisticada, ela gostava, por exemplo, de perfumes bons. Seu favorito era o Fleur de Rocaille, um perfume francês muito característico das pessoas de bom gosto”, completa. Outra curiosidade que a produção de arte descobriu foi que, em 1951, a cantora chegou a ter quatro carros, um luxo neste período. Ela teve um Jaguar, um Austin, o primeiro modelo de Fusca e um Oldsmobile. “Dalva gostava também de cristais, toalhas da Ilha da Madeira e de móveis Chipandelli, objetos presentes na minissérie”, conta Ana.

Já para Herivelto, a produção de arte teve seus dois violões feitos sob medida. O compositor carregava violões claros, com desenhos característicos. Os instrumentos foram remontados especialmente para a minissérie e utilizados pelo ator Fabio Assunção nas cenas.

Também para este projeto foram refeitos os jornais da época. “Antigamente, você ia direto à Biblioteca Nacional, pegava o que queria e reproduzia. Agora, os jornais são micro-filmados, você não tem mais acesso para ver como o jornal era. Então, este foi um grande desafio para a minha equipe”, conta Ana Maria de Magalhães. O ‘Diário da Noite’, por exemplo, onde Herivelto publicou os artigos contra Dalva, era conhecido como “verdinho”. Ao realizar a pesquisa, porém, a produção de arte descobriu que, apesar do apelido, pouquíssimas edições haviam sido impressas em folhas verdes. Consta que a impressão era feita no papel que estivesse mais barato no momento e, por conta das poucas edições verdes, conquistou o título.

COMPUTAÇÃO GRÁFICA

Todo o material reunido pela produção de arte serviu como base para o departamento de computação gráfica, responsável por cobrir as interferências modernas nas locações em que a minissérie foi filmada. Gustavo Garnier e Paula Souto fazem o trabalho de pós-produção, removendo ar condicionados, postes, fios e outros objetos que não pertenciam à época. “Na década de 30, por exemplo, não existia o asfalto. Em algumas cenas, usamos um tapete que simulava paralelepípedo. A ponte Rio-Niterói também não havia sido construída, então tivemos que retirá-la das cenas em que ela aparecia, com a ajuda de programas de computação gráfica”, explica Paula Souto.

Além do trabalho de remoção de características urbanas contemporâneas, as cenas de stock shots também foram feitas virtualmente. A construção da ponte Rio-Niterói, do Maracanã e a duplicação da Avenida Atlântica são algumas das cenas que poderão ser vistas na minissérie ‘Dalva e Herivelto, uma canção de Amor’. “Para isso, usamos como referência fotos. Depois tudo é modelado em 3D”, conta Paula.

O CASSINO DA URCA E A RÁDIO NACIONAL

As gravações aconteceram no Rio de Janeiro, Niterói e Petrópolis. Os principais shows, que na realidade aconteceram no Cassino da Urca, foram gravados no Palácio Quintandinha, em Petrópolis, região serrana do Rio de Janeiro. A cenografia do local foi feita pelo diretor de arte Mario Monteiro e sua equipe.

Uma curiosidade desta produção é que o pai de Mário Monteiro, o arquiteto Alcibíades Monteiro, foi quem projetou o Quitandinha e o Cassino da Urca no início do século XX. Assim, Mário teve ajuda de todo um acervo pessoal ao elaborar este projeto. “A estrutura e padrão destes dois cassinos é a mesma, pois o dono deles era o mesmo, Joaquim Rolla. A principal diferença é o palco, que, no Cassino da Urca, era um palco avançado e iluminado, que cobria a pista de dança. E esta adaptação foi feita no Quitandinha com a inclusão de uma pista de acrílico”, explica Mário Monteiro.

O projeto levou dois meses para ser elaborado. A construção e montagem do cenário do Cassino da Urca duraram duas semanas. Foram gravados no palco sete diferentes shows. Nas filmagens, foram usadas cadeiras e mesas da época, bem como a mecânica do palco, que ainda está em pleno funcionamento no Quintandinha, restaurado há pouco tempo. O restante dos objetos foi todo reproduzido, inclusive o abajur que compõe a decoração de cada mesa do cassino.

Já o ambiente da Rádio Nacional foi remontado em estúdio, na Central Globo de Produção. Para a elaboração do projeto, foram feitas mais de 60 plantas. O cenário preserva medidas semelhantes ao do verdadeiro auditório da rádio e tem capacidade para aproximadamente 250 pessoas.

A CARACTERIZAÇÃO

Para alcançar a semelhança com os personagens reais, os atores passaram por transformações no visual, comandadas pela caracterizadora Anna Van Steen e sua equipe. “O primeiro passo foi estudar detalhadamente cada personagem real. Também recorri a filmes biográficos para entender quais os fatores mais importantes numa caracterização como essa”, conta Anna. “Concluí que era importante respeitar as personalidades de cada personagem, e não imitar a realidade simplesmente”, completa.

A caracterização, assim como os ambientes, também se altera conforme há a passagem das décadas na minissérie. “O fundamental é conseguir situar o espectador dentro das fases da história e mostrar as passagens de tempo”, complementa a caracterizadora. Foram mais de oito grandes malas com aproximadamente 60 quilos de maquiagem. “A nossa empreitada foi difícil, mas muito gratificante”, diz.

Como Dalva inicia a trama jovem e pobre, Anna e sua equipe optaram por cabelos longos e mal cuidados. Foi feito permanente nos fios de Adriana Esteves e sua pele foi trabalhada com produtos específicos. Já na fase madura, no auge da carreira da cantora, o desafio principal foi retratar o glamour. Por isso, uma peruca foi feita à mão, com cabelos crespos como o de Dalva. No envelhecimento, fase de decadência da intérprete, outra peruca foi utilizada, desta vez loira com raiz escura. Para este período, a equipe de caracterização trabalhou o rosto, mãos e pescoço da atriz com próteses de látex. A partir de 1965, uma terceira peruca é utilizada, já com coloração grisalha. Adriana Esteves usa também nesta época uma cicatriz no rosto, em decorrência do acidente de carro sofrido por Dalva. As lentes de contato verdes dão o toque final à caracterização.

Para se transformar em Herivelto Martins, Fabio Assunção precisou tingir, cortar e ondular os cabelos. Os fios foram escurecidos na juventude e agrisalhados ao longo das décadas. O ator deixou o bigode crescer e o aparou constantemente da mesma forma que Herivelto fazia. Alguns pedaços de cabelo na testa do ator foram raspados, para dar credibilidade ao envelhecimento do personagem. Uma prótese também foi colada no pescoço e na barriga do ator, para realçar o ganho de peso do personagem nos anos 70, além de manchas de senilidade e rugas falsas.

Os outros grandes cantores da época, também retratados na minissérie, foram sendo desenhados de acordo com fotos e biografias. Para interpretar Grande Otelo, o ator Nando Cunha depilou a sobrancelha. Já Fafy Siqueira ficou loira para viver Dercy Gonçalves. Perucas também transformaram os rostos das atrizes que interpretam Emilinha Borba, Marlene, Dircinha e Linda Batista.

O FIGURINO

A caracterização se completa por meio do figurino concebido por Marília Carneiro e sua equipe. “Eu já tinha tido contato com as décadas de 30 a 70 na minissérie ‘Maysa’, mas o ambiente deste projeto é tão diferente que tive que realizar a pesquisa toda de novo. Porque Dalva é uma pessoa popular e, mesmo quando ela enriquece, mantém seu jeito humilde. É contemporânea de Maysa, mas o público delas é muito distante”, analisa Marília Carneiro. “Quando soube que ia fazer a minissérie fiquei muito emocionada. É uma fase riquíssima da música brasileira”, completa.

A personagem Dalva de Oliveira tem 92 trocas de roupa ao longo da minissérie e não repete nenhum modelo, por conta da passagem das décadas. Para este trabalho árduo, Marília Carneiro teve como principal fonte de pesquisa a ‘Revista do Rádio’, periódico que funcionava como bíblia para os ouvintes, tamanha sua repercussão. “Nós copiamos apenas um vestido que a Dalva usa quando canta no Cassino da Urca. Foi uma vontade que eu tive de fazer uma homenagem à cantora. Tenho uma foto deslumbrante dela com este vestido de lamê verde, de um ombro só. Copiamos por inteiro, mas esta foi a única peça que copiamos. O restante criamos”, conta a figurinista.

Além disso, o fã número um e melhor amigo de Dalva, Nacib, ainda guarda um acervo da cantora em sua casa. Ele levou este acervo à Central Globo de Produção e as roupas e jóias reais inspiraram a equipe de figurino. “Foi ótimo, porque conseguimos ver o shape da Dalva, seu manequim, perfeitamente”, diz Marília.

O figurino de Dalva de Oliveira foi todo adaptado ao seu estado de espírito na cena e às músicas que canta. “Quando ela canta ‘Sereia do Mar’, por exemplo, ela está com uma roupa de Iemanjá. As roupas se adaptam ao humor dela. Se está triste e deprimida, isso influencia diretamente no figurino”, explica Marília. Alguns foram desenhados e produzidos pela equipe de figurino, outros modelos foram achados em brechós no Rio de Janeiro e em São Paulo, principalmente os vestidos de dia-a-dia.

Para o personagem Herivelto Martins, a criação do figurino foi mais livre. “Não seguimos muito à risca, inventamos mais. A não ser no início da minissérie, que se passa em 1972 e mostra o Herivelto andando na Murada da Urca, olhando o mar e pensando em sua história. Para esta cena eu realmente copiei o modelo de uma foto do personagem real, em que ele está com uma capa de chuva, impermeável. Não resisti, porque era muito bonito”, conta Marília.

A preocupação era retratar um boêmio dos anos 30 e 40, um homem que gostava dos encontros em bares e de compor com os amigos. “Os linhos me inspiraram muito, porque dão uma certa amassada e não ficam muito compostos e espetados. Herivelto era uma pessoa descontraída”, explica a figurinista. O personagem Herivelto tem cinco ternos e a principal transformação de seu visual pode ser percebida através das 14 gravatas, que acompanham as mudanças da moda. Nos anos 40 e 70, são gravatas largas. Em 50, médias. Em 60, finas. Os padrões das estampas também variam conforme as tendências da época. Todas foram produzidas pela equipe de figurino.

Já Lurdes encanta Herivelto com um uniforme de comissária, quando aparece em sua primeira cena, a bordo de um avião. O figurino foi reproduzido como os uniformes das aeromoças do Real, companhia aérea dos anos 40. “Ela realmente ficou muito bonita. Eu olhei para a Lurdes com os olhos do Herivelto. A Maria Fernanda Cândido é elegante e as roupas ficam muito importantes nela”, diz Marília.

O figurino, de um modo geral, obedece a uma paleta de cores estipulada pelo diretor de núcleo Dennis Carvalho. Tons quentes, como o ocre, café com leite e bege, são utilizados em todas as décadas. “Abusamos dos terrosos, dos areias, dos cremes e marrons nesta fase dos anos 30 a 60”, conta Marília. Já nos anos 70, são utilizadas cores frias, como azuis, cinzas e brancos.

Algumas jóias verdadeiras também estão presentes na minissérie. Para a composição do personagem, Fabio Assunção utiliza um anel que era de Herivelto Martins, além de um apito de ouro que o compositor ganhou de presente de Lurdes. O ator também encomendou uma réplica de um cordão utilizado pelo sambista, com o desenho de um santo protetor. “Depois da minissérie vou continuar utilizando o cordão para proteção pessoal”, diz Fabio. Maria Fernanda Cândido também usa um objeto que pertenceu à Lurdes, um anel de mindinho com um “L” desenhado. “É muito interessante usar coisas que realmente pertenceram à Lurdes. Uso nas cenas até o perfume que ela gostava, o Madame Rochas”, conta Maria Fernanda Cândido.

ENTREVISTA COM A AUTORA MARIA ADELAIDE AMARAL

Autora portuguesa radicada no Brasil, Maria Adelaide tem no currículo peças teatrais, novelas e minisséries memoráveis. Ela nasceu na cidade de Porto, em 1945, e aos doze anos veio com sua família para o Brasil, para a cidade de São Paulo, onde cursou Jornalismo na Fundação Cásper Líbero. Por dezesseis anos trabalhou na Editora Abril, até que começou a escrever suas primeiras peças, que hoje somam mais de 14 obras. Estreou na televisão em 1990, co-escrevendo a novela ‘Meu Bem, Meu Mal’ com Cassiano Gabus Mendes. Seu primeiro trabalho como autora titular foi em ‘Anjo Mau’, em 1997. Depois disso, entre outros trabalhos, foi responsável pelas minisséries ‘A Muralha’, ‘Os Maias’, ‘A Casa das Sete Mulheres’, ‘Um Só Coração’, ‘JK’ e ‘Queridos Amigos’. Agora, a autora embarca em um novo desafio, o de contar a história de Dalva de Oliveira e Herivelto Martins, um casal com uma trajetória de muitos sucessos e também de muitas polêmicas.

Como surgiu o convite para escrever a minissérie?

Maria Adelaide: Eu fui propor uma minissérie sobre a Isaurinha Garcia, e o Mariozinho (Rocha) me perguntou: “Por que não Dalva de Oliveira?”. Eu abracei a idéia imediatamente.

Existe alguma preferência em fazer trabalhos de época?

Maria Adelaide: Em princípio, não. Mas desde ‘A Muralha’ tomei gosto por minisséries históricas. Mas também gosto muito de temas contemporâneos.

Você já havia tido contato com a história e o repertório musical de Dalva de Oliveira e Herivelto Martins?

Maria Adelaide: Sim, tanto com a história como com o repertório musical. Eu cresci cantando “Que será da luz difusa do abajur lilás”, “Praça XI” e outras composições de Herivelto que se tornaram grande sucesso na voz de Dalva de Oliveira. Cantarolava todo o repertório, principalmente o que dizia respeito ao rompimento.

Qual a maior dificuldade de se contar uma história de personagens reais que ainda estão tão recentes na memória popular?

Maria Adelaide: É manter um olhar compassivo sobre os personagens, sobretudo sobre o Herivelto Martins. Mas a delícia é justamente este desafio, de mergulhar na alma e na intimidade dessas criaturas. Ao longo da minha longa carreira, que começou no teatro em 1978, escrevi bastante sobre personagens reais: Chiquinha Gonzaga, Tarsila do Amaral, Coco Chanel, Jucelino Kubitschek, Yolanda Penteado, Ciccilo Matarazzo, os modernistas e toda aquela galeria de personagens das minhas minisséries históricas. A sensação que tenho é que sempre escrevo sobre personagens reais mesmo quando são fictícios. Além disso, criei cenas e personagens fictícios para esta minissérie toda vez que isso se tornou necessário do ponto de vista dramatúrgico.

O espectador pode esperar muitas cenas históricas como os shows no Cassino da Urca, episódios na Rádio Nacional ou tudo será ficcional?

Maria Adelaide: Na verdade, elas serão uma livre recriação. No caso dos shows do Cassino, maravilhosos, a autoria cabe aos brilhantes Cláudio Botelho e Charles Möeller.

A pesquisa encontrou um vasto material sobre Dalva de Oliveira e Herivelto Martins. Qual foi o seu critério na hora de resumir toda a história em cinco capítulos?

Maria Adelaide: Acredito que menos é mais. Li e pesquisei muito, e conversei com as pessoas da família e outras que conheceram bastante a vida dos dois. Depois, priorizei os momentos mais importantes da vida deles. Contei com a ajuda de duas pesquisadoras, que foram atrás de todas as bibliografias possíveis em arquivos de jornais, revistas, museus, além de biografias dos personagens. A minissérie não se baseia em nenhum livro. Ela se baseia em todas as entrevistas, as intensas consultas aos jornais e revistas da época (que forneceram material para inúmeras cenas de brigas do casal, inclusive). Ao longo da pesquisa foram lidos vários livros: o do Pery, do Jonas Vieira, do João Elísio Fonseca e a biografia de Grande Otelo escrita por Sérgio Cabral.

Qual foi a cena mais difícil de escrever?

Maria Adelaide: A cena em que as crianças, Pery e Bily, são mandadas para o internato por um juiz da Vara da Família. Também foi bastante desconfortável escrever algumas cenas em que Herivelto mentia e agredia Dalva. Mas havia uma dinâmica um tanto complementar (e neurótica) entre os dois. Ele foi um marido delicadíssimo para a Lurdes, sua segunda mulher.

O que os ídolos daquela época têm em comum com os de hoje na era da web 2.0 ?

Maria Adelaide: Acho que Dalva e Herivelto têm muito a ver com a história permeada de ciúme, traição e escândalo de tantos casais famosos que conhecemos, como Tina Turner e Ike Turner, por exemplo.

Acha que os jovens que não conheceram os dois vão se interessar por esta história?

Por quê?

Maria Adelaide: Espero que sim, porque Dalva e Herivelto são bem parecidos com algumas figuras que eles conhecem bem: Courtney Love e Kurt Cobain, Nancy e Sid Vicious, e outros casais contemporâneos. Muda a moda, mas a paixão, o ciúme, a traição, a mágoa, o ressentimento pontuam as relações afetivas de todos os tempos.

Você participou da escolha do elenco?

Maria Adelaide: Sim, sempre participo. E adorei quando o Dennis Carvalho convidou para os papéis de Dalva e Herivelto os atores Adriana Esteves e Fabio Assunção.

Gostou do resultado das cenas que viu?

Maria Adelaide: Adoro o trabalho do Dennis Carvalho e fiquei realmente impactada com o desempenho e a entrega de Adriana Esteves e Fabio Assunção aos papéis de Dalva e Herivelto.

O que o público pode esperar da minissérie?

Maria Adelaide: Emoção, romance e música de primeira qualidade. A vida e a obra de Dalva e Herivelto fazem parte do acervo e patrimônio da música popular e, portanto, da cultura brasileira.

ENTREVISTA COM O DIRETOR DENNIS CARVALHO

É extensa a trajetória do diretor Dennis Carvalho, que agora repete a parceira com Maria Adelaide Amaral, iniciada em ‘JK’, ao filmar a minissérie que conta a história de Dalva de Oliveira e Herivelto Martins. Ele nasceu em São Paulo, em 1947, e iniciou sua carreira artística já aos 12 anos de idade, atuando na novela ‘Oliver Twist’, da extinta TV Paulista. Em 1974, interpretou seu primeiro personagem protagonista, o Jean da novela ‘Ídolo de Pano’, na TV Tupi. Um ano mais tarde, foi contratado pela Rede Globo para integrar o elenco de ‘Roque Santeiro’, de Dias Gomes, mas, como a novela foi censurada, sua estreia se deu apenas em ‘Pecado Capital’. Começou como diretor em 1977, substituindo Régis Cardoso no cargo, na novela ‘Locomotivas’. E não parou mais. Foi responsável, ao lado de Gilberto Braga, por dois dos maiores sucessos da televisão: ‘Dancin´ Days’ e ‘Vale Tudo’. A primeira minissérie que dirigiu foi no início da década de 80, ‘Quem Não Ama Não Mata’, de Daniel Filho e Euclydes Marinho. Também esteve à frente de ‘A, e, i, o... Urca’, ‘Anos Rebeldes’, ‘Sex Appeal’, ‘Malu Mulher’ e ‘Labirinto’. Recebeu o prêmio Qualidade Brasil na categoria de Melhor Diretor em 2003, e agora assina a direção de núcleo da minissérie ‘Dalva e Herivelto, uma canção de amor’.

Como surgiu o convite para assumir a direção da minissérie?

Dennis Carvalho: A Maria Adelaide teve a idéia da minissérie e me indicou para assumir o projeto.

Este é seu segundo trabalho com a autora Maria Adelaide Amaral, com quem fez a minissérie ‘JK’. Como é a parceria entre vocês?

Dennis Carvalho: A nossa parceria foi fantástica em ‘JK’ e agora está sendo melhor ainda.

A minissérie ‘A, e, i, o... Urca’, de Antônio Calmon e Doc Comparato, também foi ambientada no Cassino da Urca e se passava nas décadas de 30 e 40, anos de ouro do Rio de Janeiro. O que já ter dirigido uma minissérie nestes moldes lhe trouxe de bagagem para as filmagens da história de Dalva de Oliveira e Herivelto Martins?

Dennis Carvalho: Realmente me deu muito mais conhecimento sobre os musicais do Cassino da Urca, que, na época, eram muito elaborados e variados. Agora, para este projeto, convidei Charles Möeller e Cláudio Botelho para dirigir esses shows, e eles fizeram um trabalho excelente. Foi mais uma vitória trazê-los para trabalhar pela primeira vez na Rede Globo.

Porque a escolha de Adriana Esteves e Fabio Assunção para dar vida ao casal protagonista?

Dennis Carvalho: Porque, vendo uma foto da Dalva junto com uma da Adriana, fiquei convencido na hora de que seria ela. Além disso, já tinha vontade de trabalhar com a Adriana Esteves há muito tempo. Já Fabio é um grande amigo, que cada vez mais está dando um show como ator.

Como foi a preparação dos atores?

Dennis Carvalho: Tivemos vários tipos de preparação. Os atores fizeram aulas de canto, violão, lip sinc – para dublar corretamente as canções -, além de vários laboratórios com os familiares de Dalva e Herivelto.

A minissérie abrangerá cinco décadas, de 30 a 70. Existe alguma diferença na direção e fotografia quando ocorre a mudança das décadas na trama?

Dennis Carvalho: Procuramos dar uma diferença na fotografia sim. Nas décadas de 30, 40 e 50 a fotografia é mais quente, mais dourada. Nas décadas de 60 e 70, a fotografia é mais fria, azulada, para indicar o início da decadência da relação de Dalva e Herivelto.

As gravações aconteceram principalmente em externas, no Rio de Janeiro e em Petrópolis. Qual foi a maior dificuldade encontrada?

Dennis Carvalho: As maiores dificuldades encontradas são sempre a preservação dos locais antigos. Hoje em dia está tudo desfigurado, com antenas, ar condicionados, etc. Tivemos que tirar tudo isso na pós-produção, com um trabalho fantástico de computação gráfica.

PERFIL DOS PERSONAGENS

Dalva De Oliveira (Adriana Esteves) - Dalva de Oliveira embalou o Brasil com sua voz no samba-canção. Grande cantora, ela deslanchou como estrela ao lado de Herivelto Martins e Nilo Chagas. O conjunto logo ganhou o título de “Trio de Ouro” e Dalva brilhou no auge do sucesso da Rádio Nacional. Está até hoje na memória popular brasileira por suas músicas e pela paixão por seu primeiro marido, Herivelto Martins. Sua trajetória, no entanto, é composta por momentos altos e baixos, por conquistas gloriosas e perdas notórias.

Herivelto Martins (Fabio Assunção) - Herivelto Martins foi um marco na história da música brasileira. Além dos sucessos que compôs, foi também o inventor do apito como instrumento rítmico, o primeiro sambista a compor sobre a vida no morro e um grande cronista musical do Rio de Janeiro. Era rígido e disciplinador. Produzia tudo em seus shows, desde o repertório até os arranjos, figurinos e coreografia. Sua maior criação, provavelmente, tenha sido Dalva de Oliveira.

Pery (Gabriel Moura/Thiago Fragoso) - Pery é o filho primogênito do casal Dalva de Oliveira e Herivelto Martins. Muito apegado à mãe, ele sempre se ressentiu do jeito distante e inflexível do pai. É enviado com seu irmão para um colégio interno durante o processo de divórcio dos pais, e sofre muito com as pressões da sociedade, curiosa para saber detalhes da briga conjugal. Mesmo contra a vontade paterna, se torna cantor e faz carreira internacional.

Bily (Yago Machado/Thiago Mendonça) - Bily é o segundo e último filho do casal Dalva de Oliveira e Herivelto Martins. Ao contrário do irmão mais velho, não toma partido na briga dos pais.

Rick Valdez (Pablo Belini) - Rick Valdez é um personagem fictício, segundo marido de Dalva de Oliveira. Músico mexicano, ele conhece a cantora em uma de suas apresentações no Cassino da Urca. Seduz Dalva mais pelo seu charme e bons modos do que pela sua aparência física. Apaixonado, pretendia transformar a esposa em uma verdadeira dama.

Dorival (Leonardo Carvalho) - Dorival é um personagem fictício, terceiro marido de Dalva de Oliveira. Se conhecem em uma boate, ele bem mais novo do que ela.

Alice Do Espírito Santo de Oliveira (Denise Weinberg) - Alice é a mãe de Dalva de Oliveira e responsável pelo nome artístico da filha. “Alice Portuguesa”, como era conhecida, parou de trabalhar fora para se dedicar aos cuidados da família, principalmente da primogênita.

Nair (Adriana Salles) - Nair é irmã de Dalva de Oliveira. Também faz coro para a cantora, mas tem um temperamento mais retraído. Gosta dos afazeres domésticos e frequenta a casa de Dalva com regularidade.

Margarida - Margarida é a segunda filha de Alice (Denise Weinberg), cinco anos mais nova que Dalva de Oliveira. Ajuda Dalva fazendo coro em suas apresentações. É cantando que se realiza, pois tem uma bela voz.

Severina, Lila (Janaína Prado) - Lila, como gostava de ser chamada, é a filha caçula de Alice (Denise Weinberg) e a irmã mais chegada à Dalva de Oliveira. Foi cantora de bailes e boates.

Seu José - Seu José é o segundo marido de Alice (Denise Weinberg). Conheceu a esposa em São Paulo e assumiu as crianças de Alice como se fossem suas.

Lurdes Torelly Martins (Maria Fernanda Cândido) - Lurdes é uma aeromoça de família gaúcha tradicional. Era divorciada quando Herivelto Martins a conheceu, a bordo de um avião. O compositor sentiu amor à primeira vista. Ela fez de tudo para não ceder aos encantos do famoso artista, até que ele finalmente a ganhou. Lurdes é de uma bondade tão grande que até a amizade de Dalva ela conquista. É ela quem organiza as festas de família, compra os presentes de Natal, cuida do banco e da correspondência, mas nunca faz qualquer serviço doméstico. Gosta de receber os filhos dos outros casamentos do marido, tratando-os sempre com muito carinho.

Nilton Sérgio - Nilton é o filho de Lurdes, de seu primeiro casamento com Francisco. Foi criado pela avó Sílvia Torelly (Yaçanã Martins) e pelas tias Conceição (Mayana Neiva) e Jane Torelly, pois seu pai não permitia que ele morasse com a mãe e outro homem. Apesar disso, adora Herivelto Martins e o considera seu pai. Se tornou economista.

Fernando José - Fernando é o primeiro filho de Lurdes e Herivelto Martins. Por influência do pai, com apenas cinco anos de idade já sabia tocar pandeiro. Cresceu um menino inteligente e extrovertido.

Yaçanã (Fernanda Curi) - Yaçanã é a única filha mulher de Herivelto Martins, e, como não podia deixar de ser, o xodó do pai. Adora acompanhar a mãe Lurdes (Maria Fernanda Cândido) em suas conversas e passeios. Dotada de imensa vocação artística, acaba se tornando atriz.

Herivelto Filho - Herivelto é o filho caçula de Lurdes (Maria Fernanda Cândido) e Herivelto Martins. O único a nascer loirinho, como o pai era quando criança, também tem muito talento e afinação ao cantar. Em sua adolescência, em 1971, chegou a atuar em uma novela da Rede Globo chamada “Minha Doce Namorada”.

Sílvia Torelly (Yaçanã Martins) - Sílvia é a mãe de Lurdes (Maria Fernanda Cândido), matriarca da família. Ficou viúva cedo, com quatro adolescentes para criar – Lurdes, Conceição (Mayana Neiva), Jane e René (Adriano Petermann). Católica, ela era severa e disciplinadora. Não aceitou inicialmente a corte que Herivelto Martins fazia para a filha, mas depois acabou se acostumando, e até gostando, com novo genro. A atriz que interpreta a personagem, é na vida real a filha de Lurdes e Herivelto. Yaçanã Martins interpreta sua avó materna na minissérie.

Conceição Sílvia Torelly (Mayana Neiva) - Sílvia, como gostava de ser chamada, é tão bonita quanto a irmã mais velha Lurdes (Maria Fernanda Cândido). É uma morena que atrai olhares por onde passa. Tem um caráter desinibido e desenvolto e é muito próxima a Lurdes.

Jane Torelly - Jane é a mais nova e engraçada das irmãs. Tem um temperamento espontâneo, debochado e divertido. É excelente em trabalhos manuais: gosta de costurar, tricotar e bordar. Como Lurdes, é compreensiva e carinhosa.

René (Adriano Petermann) - René é irmão de Lurdes (Maria Fernanda Cândido).

Antoninho (Carlo Porto) - Antoninho é um personagem fictício, comissário de bordo e amigo de Lurdes (Maria Fernanda Cândido).

Nacib (Luiz Araújo) - Nacib é amigo de Dalva de Oliveira e fã número um da cantora. Eles se conhecem quando Nacib tem apenas 14 anos, e o rapaz se torna confidente da artista até sua morte.

Edith (Daniela Fontan) - Edith começou a carreira como empregada de Dalva de Oliveira, mas acabou se tornando sua assessora. Ela saiu de Pernambuco ainda adolescente para trabalhar como camareira da artista. A afinidade entre elas, porém, é tanta, que Edith vira fiel escudeira, confidente, governanta, babá, e tudo mais que se possa imaginar.

Dona Glorinha (Guida Vianna) - Dona Glorinha é diretora e professora do internato em que Pery (Gabriel Moura/Thiago Fragoso) e Bily (Yago Machado/Thiago Mendonça) ficam durante a separação dos pais.

Herculano (Jackson Costa) - Herculano é um personagem fictício, um pai de santo que aconselhou Herivelto Martins por toda a vida. Tem um temperamento doce e gentil.

ARTISTAS E AMIGOS DO SAMBA

Grande Otelo (Nando Cunha) - Grande Otelo, pseudônimo de Sebastião Prata, é grande amigo de Herivelto Martins. Ator, compositor e cantor consagrado, Grande Otelo e Herivelto se conheceram em um botequim da Praça Tiradentes. Logo se tornaram amigos e parceiros profissionais. Otelo era a grande estrela do Cassino da Urca em seus tempos áureos, mas mesmo assim nunca deixou de frequentar a casa de Herivelto e Dalva de Oliveira. Estrelou famosas comédias no cinema, e foi parceiro de Oscarito e até de Orson Welles. Também atuou em novelas da Rede Globo, seu último trabalho foi a participação em ‘Renascer’. Otelo morreu em 1993 de um ataque do coração, quando viajava para Paris, na França, para receber uma homenagem no Festival de Nantes.

Benedito Lacerda (Emílio de Mello) - Benedito Lacerda é um compositor, flautista e maestro brasileiro. Nasceu em Macaé, no estado do Rio de Janeiro, mas ainda adolescente se mudou para o bairro Estácio, berço do samba. Alia a experiência de flautista da Banda da Polícia Militar ao convívio com os chorões e bambas do Estácio. Acompanha quase todos os craques da música brasileira e se torna amigo de Herivelto Martins já na década de 30. Morreu antes de completar 55 anos, vítima de um câncer de pulmão.

Margot (Leona Cavalli) - Margot é uma personagem fictícia, que nasceu no mesmo ano e mês que Dalva de Oliveira. Ela faz parte do coro RCA Victor, mas sua voz nunca foi especial o bastante para que se destacasse. A vida de Dalva de Oliveira era justamente a que queria ter. Gostaria de ser uma grande cantora e de ter se casado com Herivelto Martins, por quem nutriu uma paixão secreta. Por isso, se torna uma falsa amiga de Dalva e passa a se empenhar dia e noite na destruição do casamento da artista.

Marino Pinto (Marcos Acher) - Marino é um compositor que teve suas letras gravadas por diversos intérpretes de primeiro time. A partir de 1947, passa a compor com Herivelto Martins. Depois, no entanto, por Dalva de Oliveira cantar letras suas durante a polêmica separação, Herivelto rompe relações com Marino.

Ataulfo Alves (Pedro Lima) - Ataulfo Alves é um dos maiores sambistas do Brasil. Filho de violeiro, sanfoneiro e repentista, aos oito anos de idade já compunha seus primeiros versos, em resposta aos improvisos e repentes do pai. Por Dalva de Oliveira ter usado uma música sua – Errei, sim – na polêmica pós-separação, ele ganhou a inimizade de Herivelto Martins. Mal sabia Herivelto que a canção já havia sido composta muito tempo antes. Faleceu poucos dias antes de completar 60 anos, de úlcera.

Nilo Chagas (Maurício Xavier) - Nilo Chagas só passa a constar nos registros da música brasileira quando forma a dupla Preto e Branco com Herivelto Martins. Depois, com a inclusão de Dalva de Oliveira e a formação do ‘Trio de Ouro’, sua voz grave passa a fazer uma ótima contraposição às vozes agudas dos outros dois parceiros. Nilo ainda participou da segunda formação do ‘Trio de Ouro’, já sem Dalva de Oliveira, mas depois abandonou o grupo e não deu continuidade a sua vida artística.

Vicente Paiva (Gustavo Gasparani) - Vicente é músico e cantor, diretor musical do Cassino da Urca entre 1934 e 45. Ele e sua esposa Amália (Susana Ribeiro) são muito amigos de Herivelto Martins e Dalva de Oliveira, acompanhando-os inclusive na excursão à Venezuela. Morreu em 1964.

Amália Paiva (Susana Ribeiro) - Amália Paiva é esposa de Vicente Paiva (Gustavo Gasparani).

César Ladeira (André Correa) - César Ladeira é um famoso radialista, que tinha a mania de criar epítetos para os cantores. Ele, a princípio, não gostava de Dalva de Oliveira, e sempre suprimia suas canções da programação da rádio Mayrink Veiga. Anos depois, no entanto, foi o responsável por criar o nome ‘Trio de Ouro’.

Francisco Alves (Fernando Eiras) - Francisco Alves, ou o ‘Rei da Voz’, como era conhecido, é um dos maiores cantores brasileiros de todos os tempos. Gravou diversas músicas compostas por Herivelto Martins e fez também dois duetos com Dalva de Oliveira.

Dercy Gonçalves (Fafy Siqueira) - Dercy Gonçalves, nome artístico de Dolores Gonçalves Costa, é uma atriz tão autêntica que sua trajetória dispensa apresentações. Oriunda do teatro de revista, ficou conhecida pelo bom humor. Era irreverente e se consolidou como um dos maiores nomes do teatro de improviso no Brasil. Na trama, Dercy entra na vida de Dalva de Oliveira e Herivelto Martins por conta da viagem que eles fazem à Venezuela. Morreu com mais de 100 anos de idade, em 2008.

Marlene (Rita Elmôr) - Marlene, nome artístico que adotou inspirada na atriz e cantora alemã Marlene Dietrich, é uma das cantoras mais populares do Brasil. Eleita como “Rainha da Rádio” em 1949 e 50, tinha famosa disputa com Emilinha Borba (Soraya Ravenle). A rivalidade entre as duas, no entanto, contribuiu para que ambas alcançassem popularidade estrondosa em todo o país.

Emilinha Borba (Soraya Ravenle) - Emilinha Borba talvez tenha sido a figura mais popular do rádio brasileiro, permanecendo na Rádio Nacional por 27 anos. É amiga de Dalva de Oliveira e fica ao seu lado após a separação.

Linda Batista (Cláudia Netto) - Linda Batista, filha do humorista Batista Junior, desde cedo já sabia que sua vocação era a música. Aos dez anos de idade, já compunha canções e, aos 18, foi eleita a “Rainha da Rádio”, título que manteve por onze anos, até 1948. É amiga de Dalva de Oliveira e fica ao seu lado após a separação.

Dircinha Batista (Luciana Fregolente) - Dircinha Batista, como ficou conhecida Dirce Grandino de Oliveira, ganha o título de “Rainha do Rádio” em 1948. Assim como a irmã de Linda Batista (Cláudia Netto), ela era uma criança prodígio e gravou seu primeiro disco aos oito anos de idade. As duas freqüentam a casa de Dalva de Oliveira e Herivelto Martins e apóiam a cantora após sua separação.

Orlando Silva (Édio Nunes) - Orlando Silva ficou conhecido como o “Cantor das Multidões”, epíteto que ganhou do locutor Oduwaldo Cozzi. É o primeiro cantor a ter programa exclusivo na Rádio Nacional. Amigo de Dalva e Herivelto, frequenta a casa do casal.

David Nasser (Jandir Ferrari) - David Nasser é um jornalista brasileiro que ficou conhecido pelas “grandes reportagens”, gênero que misturava a pesquisa de campo com a opinião do repórter. Dá grande incentivo para que Herivelto Martins publique no jornal “Diário da Noite” os artigos contra a ex-mulher Dalva de Oliveira.

César de Alencar (Marcelo Laham) - César de Alencar, como ficou conhecido Ermelindo César de Alencar Mattos, é um radialista, ator de cinema e apresentador de televisão. Recebe no palco de seus programas o ‘Trio de Ouro’.

Estela (Ellen Roche) - Estela é uma personagem fictícia, uma corista, com quem Herivelto Martins flerta.

Seja o primeiro a comentar ;)

Postar um comentário

  ©Noticias da tv brasileira - Todos os direitos reservados.

Template by Dicas Blogger | Topo