quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

Tudo sobre a próxima novela da Globo "Tempos Modernos"


A sensação de viver num universo tão múltiplo e dinâmico, que está em constante mudança por força da tecnologia, é a matéria-prima da próxima novela das sete da Rede Globo, ‘Tempos Modernos’. Ambientada no centro de São Paulo, a história gira em torno de um homem que construiu um reinado bastante peculiar, formado por um edifício inteligente, “protegido” por câmeras de segurança. E é neste prédio que acontece grande parte da novela. Com autoria de Bosco Brasil, supervisão de texto de Aguinaldo Silva e direção artística de José Luiz Villamarim, a produção estreia dia 11 de janeiro.

‘Tempos Modernos’ acompanha a revolução tecnológica sem deixar de lado as relações humanas e explora as mais diversas formas de amar: entre pai e filha, irmãos, homem e mulher, amigos. As variáveis da paixão, com suas dores, seus excessos e suas inseguranças, dão tempero às histórias, rotuladas pelo autor como convergentes. “Eu quero que os personagens se encontrem, por isso as tramas são convergentes e não paralelas”, explica Bosco Brasil.

O diretor José Luiz Villamarim conta que o que mais lhe seduz nesta história é a forma como os romances são retratados, o que pode ser visto nos diálogos e nas ações dos personagens. “São amores latinos, pessoas quentes e sanguíneas, que agem no calor da emoção e não pensam nas consequências”, define. Ainda segundo ele, em ‘Tempos Modernos’ o público vai perceber que quem manda é o coração e isso tem importante interferência na vida dos personagens.

O relacionamento homem-máquina também será discutido. Uma das brincadeiras da novela é a existência de um computador que controla o prédio onde vivem e trabalham as peças-chave para o desenrolar das situações. Auto-irônica, temperamental e não muito avançada, essa máquina mexe com a vida das pessoas e deixa claro que a tecnologia não tem por princípio sufocá-las. Para Bosco Brasil, o desconforto sentido à flor da pele nos dias de hoje não é decorrente desta realidade, quase virtual e cada vez mais high-tec. “Quem abre mão da humanidade é o próprio ser humano”, frisa o autor, que promete tomar partido do lado engraçado da interação entre homem e máquina.

‘Tempos Modernos’ estreia dia 11 de janeiro, após o ‘Praça TV’ e tem a direção-geral de José Luiz Villamarim e direção de Paulo Silvestrini, Carlo Milani e Luciana Oliveira. A história é escrita por Bosco Brasil, com supervisão de texto de Aguinaldo Silva, e com a colaboração de Maria Elisa Berredo, Mário Teixeira, Izabel de Oliviera e Patrícia Moretzsohn.

O mundo de Leal

Se olharmos bem, vamos reconhecer em Leal Cordeiro (Antônio Fagundes), o personagem central desta história, características comuns presentes em muitos brasileiros. Ele é um homem que poderia ganhar vida fora da ficção. É alguém que trabalhou duro a vida toda e sozinho fez riqueza. É alguém que soube atrair bons amigos e, sobretudo, conseguiu cultivá-los ao longo dos anos. É alguém que formou uma família muito amada, pela qual é capaz de tudo. Assim é Leal.

Empreendedor e com um generoso coração, ele começou a trabalhar ainda jovem na construção civil, fabricando tijolos. Depois fez parte de uma das primeiras equipes responsáveis pela fundação de Brasília. E foi nesta cidade onde conseguiu comprar seu primeiro pedaço de terra, que lhe reservou uma enorme surpresa: um precioso veio d’água. Com dinheiro no bolso e muita vontade de vencer, Leal chegou a São Paulo. Na capital paulista, foi contratado por empreiteiras atuantes em importantes obras, como a do famoso Titã, o prédio mais alto da cidade, localizado no centro antigo.

Além de participar da obra da construção, Leal comprou quase todos os imóveis colocados à venda. Ele só não conseguiu arrematar um dos apartamentos, cuja proprietária e também moradora é Hélia (Eliane Giardini), motivo de muita dor de cabeça. Problemas não faltam a Leal. Há anos ele é o administrador do Titã. Apesar de receber a ajuda de amigos e de uma equipe de funcionários, todas as decisões dependem de Leal, principalmente para estabelecer a ordem dentro do Titã.

E não são apenas os problemas já costumeiros que tiram o sono de Leal. A grande pedra em seu sapato é Albano (Guilherme Weber), um homem misterioso e que trabalha estrategicamente na área de segurança do prédio. Esse escorregadio empregado, que pretende tomar posse de tudo o que Leal construiu – o que inclui o Titã –, não mede esforços para se infiltrar no universo da família Cordeiro. E o primeiro passo foi dado: ficar noivo de Regeane (Vivianne Pasmanter), a filha mais velha do dono do edifício inteligente. O vilão, que tem como braço direito e amante uma perigosa mulher, Deodora (Grazi Massafera), não tem limites para alcançar seus objetivos. Para colocar um ponto final no reinado de Leal, Albano manipula, mente e até pode roubar.

Depois de tanto tempo dedicando-se incansavelmente ao trabalho, Leal conclui que está vendo a vida passar sem sentir o gosto das coisas boas que ela oferece. Surge então um grande dilema em sua cabeça e em seu coração: teria chegado a hora de se aposentar ou ainda seria cedo demais para abandonar o Titã?

A decisão fica ainda mais complicada pelo momento específico: Leal está prestes a investir no Titã II, um dos prédios mais altos do mundo, a ser erguido no centro, utilizando o que há de mais moderno em tecnologia no setor imobiliário. Caso se aposente, há também um outro obstáculo no caminho do empreiteiro. Leal terá que solucionar talvez o mais crítico dos problemas, a sua sucessão. As suas herdeiras, Regeane, Goretti (Regiane Alves) e Nelinha (Fernanda Vasconcellos), não levam o menor jeito para cuidar de um edifício com proporções e complicações tão gigantescas.

Regeane e Goretti têm um jeito torto de levar a vida, são amalucadas e ambiciosas, cada qual com a sua personalidade. Como ambas têm o tipo físico parecido com o da falecida mãe quase sempre Leal se rende aos exageros das filhas. Peruas dos pés à cabeça, Regeane (Vivianne Pasmanter) e Go Cordeiro (Regiane Alves), como gosta de ser chamada, querem entrar para a alta sociedade. E fazem de tudo para que o pai siga adiante com o Titã II, pois o objetivo é aumentar a fortuna que um dia irão herdar.

Nelinha (Fernanda Vasconcellos), a caçula e predileta de Leal, é o oposto das irmãs. Avessa à bajulação, simples e franca, a jovem astrônoma tem forte personalidade. Ama o pai ao extremo, mas vivem às turras. Atualmente os dois estão em pé de guerra, por causa do novo prédio. Pai e filha são parecidíssimos, pensam e agem de forma semelhante, principalmente na incapacidade de recuar numa briga. A jovem é contra o Titã II já que o edifício destruirá parte da bela e histórica área central da cidade, causando transtornos urbanísticos e ecológicos à região.

Nelinha (Fernanda Vasconcellos) tem o apoio da vizinhança, especialmente das pessoas que circulam pela Galeria, um conjunto de lojas frequentadas por diferentes tribos. Com o novo empreendimento, os comerciantes correm o risco de perder a área da Galeria, que deve ser destruída para dar lugar ao maior prédio da América Latina.

Relações perigosas

Poder, dinheiro ou simplesmente a diversão com o sofrimento alheio. Essas são as motivações de Albano (Guilherme Weber), o sinistro responsável pela segurança do Titã. Secretamente, ele controla as câmeras do prédio e usa diversos equipamentos tecnológicos para não perder um passo das pessoas que estão em seu foco de ataque.

Albano namora Regeane (Vivianne Pasmanter), mas na verdade o que lhe interessa é colocar as mãos no Titã. Quem mexe com coração do vilão é Deodora (Grazi Massafera), importante parceira em suas armações. É ela quem comanda e treina todos os seguranças do prédio. A amante do vilão tem verdadeira adoração por ele e, embora ambos se levem muito a sério, protagonizam cenas que rendem boas risadas ao público.

Albano e Deodora têm uma pequena equipe formada por pessoas que andam infiltradas e disfarçadas em lugares estratégicos. A dupla deseja enfraquecer Leal e, para isso, lança mão de várias armações para colocar em risco a vida de sua família, afastá-lo de seus amigos e acabar com o respeito que a vizinhança tem pelo dono do Titã.

Cercar por todos os lados para atingir seus objetivos. É pensando desta forma que Albano, apoiado por Bodanski (Otávio Müller), tenta convencer Leal a construir o Titã II. Pouco a pouco, o vilão mina as forças de Leal e consegue manipular Regeane, Bodanski e muitos outros que aparecem em cena.

A mentira que pode custar caro

Mesmo sem ter certeza de que está agindo corretamente, Leal (Antônio Fagundes) promove o lançamento do Titã II. O que ele não esperava era ter que enfrentar um protesto liderado pelos lojistas da Galeria, mas o que deixa Leal de queixo caído é ver Nelinha pendurada no Titã, como se fosse a principal atração da manifestação.

A raiva que Leal sentiu só não chega ao extremo porque esse sentimento dá lugar à preocupação. Numa fração de segundos, a corda em que Nelinha está pendurada cede e a jovem fica pendurada entre os andares do Titã, a uma grande altura. Nesta hora, o amor de pai fala mais alto e o que Leal quer é salvar a filha a todo custo.

A jovem sai da arriscada aventura sem nenhum arranhão, graças à coragem de Zeca (Thiago Rodrigues). Mas essa história fica para depois. O importante é que todos esses acontecimentos mexem com a cabeça de Leal. Confuso, ele já não sabe mais se deve continuar trabalhando no Titã, se segue com o projeto de construção de um novo edifício ou se começa a preparar suas filhas para substituí-lo nos negócios.

Para ganhar tempo e resolver o que deve fazer da vida, Leal cria uma farsa e sensibiliza Regeane, Goretti e Nelinha. Fingindo ter uma doença em estágio terminal, ele pede para que suas filhas se tornem pessoas melhores, mais tolerantes e que se esforcem para deixar as diferenças de lado e se relacionem como verdadeiras irmãs. A partir disso, Leal avalia se pode confiar ou não no trio.

E ele as convence. Nelinha é a que mais parece sofrer com o falso estado de saúde do pai. Mesmo triste, ela segue à risca o pedido de Leal e se empenha em melhorar seu temperamento. Já Regeane e Goretti fazem o que podem – e isso significa recorrer a métodos pra lá de suspeitos e desastrados – para terem a imagem de pessoas sensatas e equilibradas. Regeane, por exemplo, faz um tratamento hipnótico para controlar seu consumismo patológico. Já Goretti se dispõe a enfrentar suas quatro filhas: Maria Eunice (Polliana Aleixo), Maria Helena (Rebecca Orenstein), Maria Clara (Jeniffer de Oliveira Andrade) e Maria Eugênia (Ana Karolina Lannes). As meninas, com idades entre 15 e 12 anos, são incontroláveis.

Num primeiro momento, Leal, que as observa de longe, acredita que as filhas enfim entraram nos trilhos, mas basta chegar um pouco mais perto para ver que Goretti e Regeane continuam as mesmas destrambelhadas de sempre. Triste com a descoberta, Leal resolve investigar Nelinha, de quem ele nunca duvidou. É neste momento que a farsa da saúde frágil fica por um fio e corre o risco de ser desmascarada.

O olho que tudo vê

Ele se chama Frank, mas não é um monstro como o próprio nome sugere. Quer dizer, pensando bem, ele tem sim sua porção surreal. Não se sabe muito sobre a sua história, apenas que é um computador temperamental, construído e instalado no coração do edifício Titã. É ele quem controla diversas funções do prédio e ainda interage com os moradores. É quase um síndico onipresente. Quando menos se espera, lá está sua voz: questionando, consolando ou mesmo debochando das pessoas que vivem ou circulam pelos apartamentos e estabelecimentos comerciais. Em qualquer situação, Frank tem uma resposta pronta a ser disparada, não importa em qual direção.

O Titã é um desses edifícios inteligentes, com os mais avançados recursos tecnológicos que controlam desde a temperatura interna até a vigilância de tudo o que acontece dentro de suas paredes, com a ajuda de câmeras instaladas estrategicamente em determinados pontos. Claro, tudo de acordo com o funcionamento e humor de Frank. Composto por apartamento de diversos tamanhos e lojas comerciais, o Titã concentra num único espaço a modernidade e as memórias de uma construção que está na cidade há cerca de 40 anos.

Esse tal computador, o Frank, não é um equipamento dos mais avançados. Aliás, com seu gênio difícil, ele teme ser trocado por uma versão mais atualizada. Ninguém tem acesso a sua sala de controle, com exceção de Leal (Antônio Fagundes), com quem tem uma relação amigável, com pitadas de humor e emoção.

Escrito nas estrelas

Existe combinação mais adequada do que romantismo e astronomia? Ouvir um “eu te amo” sob o céu estrelado tem um gosto mais especial. Mas o céu em ‘Tempos Modernos’ nem sempre é claro quando o assunto é o amor. A astrônoma Nelinha (Fernanda Vasconcellos) e o engenheiro Zeca (Thiago Rodrigues) são exemplos disso. A aproximação do casal acontece de forma inusitada, quando a filha de Leal (Antônio Fagundes) fica pendurada em cordas do lado de fora do Titã. Zeca não pensa duas vezes ao ver a jovem em perigo e faz de tudo para salvá-la.

Mas Nelinha parece não ter aprendido a dizer “obrigada” e seu jeito, que beira a arrogância, deixa Zeca desapontado. Ele, que morre de medo de altura, no fundo esperava uma reação mais amigável pelo seu esforço. No entanto, o máximo que Zeca consegue receber são reclamações de Nelinha por ter atrapalhado sua manifestação contra a construção do novo edifício de seu pai, o Titã II.

Leal fica admirado e muitíssimo agradecido pelo ato heróico de Zeca. Ao ver sua filha sã e salva, o patriarca da família Cordeiro decide contratar o jovem para ser o guarda-costas de Nelinha. E sua determinação é bastante clara: não desgrudar de sua filha durante as 24 horas do dia.

Muito a contragosto, Zeca obedece às ordens de Leal. Já Nelinha tenta fazer o impossível para sair da mira do rapaz, mas ele, um ex-militar, sabe bem como se virar em ambientes hostis. No começo, os dois vivem aos trancos e barrancos. Com o passar do tempo e a obrigatória convivência, Nelinha e Zeca se apaixonam, no melhor estilo gato e rato.

Outro céu que está sujeito a chuvas e trovoadas é o de Regeane (Vivianne Pasmanter). Para conquistar de vez o coração de Leal, ela sempre tentou lhe dar um neto. Enquanto esteve casada com o avoado Portinho (Felipe Camargo), as tentativas de engravidar nunca tiveram sucesso - uma história muito mal contada, pois, para ela, a culpa sempre foi do marido. Mesmo apaixonada por ele, Regeane decide colocar um ponto final no relacionamento. Sem saber exatamente para onde o destino quer levá-la, cede às investidas de Albano (Guilherme Weber), uma figura misteriosa, que controla todo o setor de segurança do Titã. Sem a aprovação de Leal, Regeane aceita namorar Albano, pois ela acredita que ao seu lado terá um futuro melhor, o que significa prestígio, dinheiro e a possibilidade de ter filhos.

Os astros também regem a vida de Goretti (Regiane Alves). Casada com um charlatão - coisa que talvez ela não saiba - o Bodanski (Otávio Müller), ela também sempre sonhou em dar um neto a Leal, assim como Regeane. Mas o universo não deve ter conspirado a seu favor, pois, de tanto tentar, o casal teve quatro filhas.

Goretti nunca para em casa e faz de tudo para evitar suas meninas: Maria Eunice (Polliana Aleixo), Maria Helena (Rebecca Orenstein), Maria Clara (Jeniffer de Oliveira Andrade) e Maria Eugênia (Ana Karolina Lannes). A ausência tem uma explicação: medo. As Marias sabem que a mãe não consegue controlar a casa e a amedrontam. E, para completar, não há governanta, babá ou doméstica que aguente passar mais de um dia na casa desta família.

A salvação de Goretti, o que ela só será capaz de entender com o tempo, é uma ex-enfermeira formada também em Psicologia e que se chama Iolanda Paranhos (Malu Galli). A relação entre as duas não é nada amistosa, até porque ninguém gosta de ficar perto de uma pessoa que obrigue o outro a conviver com seus defeitos e suas fraquezas. Depois de contratada, Iolanda encontra uma maneira bem especial para colocar em ordem a vida da família. O que Iolanda descobre é que essa experiência vai mexer com ela, pois na casa dos Paranhos vale o ditado “em casa de ferreiro, espeto é de pau”.

Baila comigo

Em ‘Tempos Modernos’, muitos são os segredos que o passado esconde. A ex-bailarina Hélia (Eliane Giardini) que o diga. Dona de uma Escola de Dança, localizada pertinho do Titã, Hélia tem uma vida cheia de lacunas que ela insiste em deixar em branco. Uma delas é sobre o pai de seu filho, Zeca (Thiago Rodrigues).

Além de ser dona da Escola, Hélia é a única moradora e proprietária de um imóvel no Titã. O apartamento onde vive foi um antigo presente de Leal (Antônio Fagundes), com quem hoje não consegue trocar uma só palavra sem deboche, implicância ou discussão. Se os dois se encontram, há sempre faíscas. Normalmente esses momentos acontecem nas reuniões de condomínio, uma exigência de Hélia. Obviamente, apenas ela e Leal, dono de todo o restante do prédio, comparecem ao encontro, que mais parece um campo de batalhas onde duas pessoas, ainda muito feridas, insistem em se confrontar.

Apenas Tio Fidélio (Ricardo Blat), amigo, funcionário e antigo admirador de Hélia, sabe das angústias que a ex-bailarina guarda. Muitíssimo reservado, Fidélio sabe ouvir as confidências de Hélia e ajudá-la nos momentos mais delicados. Ele também é uma das poucas pessoas, ou talvez a única, que sabe onde vive o arquiteto Niemann (Marcos Caruso), o terceiro vértice de um triângulo formado por Leal e Hélia.

Isso é rock’n roll, oh yeah!

A vida na Galeria pulsa nas tatuagens, em camisetas estampadas, nos acessórios metalizados, no rock vendido nas lojas e nos trajes rebeldes de quem circula por lá. Mas às vezes as aparências podem enganar. Como no caso de Ramón (Leonardo Medeiros), dono do “Ao Tiozinho do Rock“, onde discos raros são encontrados. Quem o vê pela primeira vez pensa que o presidente da Associação de Lojistas é um liberal roqueiro das antigas, mas o pai de família, abandonado pela mulher, é um homem conservador, principalmente quando o assunto é a educação de seus dois filhos: Jannis (Aline Peixoto) e Led (Guilherme Leicam).

Dentro do peito de Ramón bate um sofrido coração. Ele não consegue se recuperar desde que Ditta (Alessandra Maestrini) resolveu abrir mão da família para se dedicar à carreira de cantora. Para uma decepção ainda maior do roqueiro, Ditta é famosa por cantar ópera, um estilo que nada tem a ver com o seu gosto musical.

Desde que precisou assumir sozinho a criação dos filhos, Ramón tem se mostrado um pai bastante ciumento e cabeça-dura. Jannis, que até hoje não consegue aceitar o que sua mãe fez, realiza todas as vontades do pai. E isso significa, inclusive, desistir de sua paixão, Túlio (João Baldasserini), motoboy da pizzaria da região.

Led também faz concessões para agradar Ramón. Na frente de todos finge ser fã de rock ’n roll, mas é apaixonado por música clássica e secretamente faz aulas de violoncelo. Led sente muita falta de sua mãe, Ditta, e não faz ideia de que ela esteja bem mais perto do que imagina...

Ramón é o maior obstáculo de Leal (Antônio Fagundes) na realização do Titã II, que prevê a construção do gigantesco prédio bem na área onde funciona a Galeria. Dois homens de bom coração e que têm muita simpatia um pelo outro, embora fiquem em lados opostos quando entra em jogo a disputa de interesses.

O coração quente de São Paulo - quando o velho e o novo se aproximam

O centro de São Paulo onde ‘Tempos Modernos’ se passa é um lugar vivo, pulsante e que reúne gente bacana que escolheu este endereço para viver. Sim, eles moram na região central da cidade, que é agradável para ter um lar, se divertir ou trabalhar. Nas ruas e praças, é possível conviver com diversas manifestações artísticas. É lá que está a escola de Hélia (Eliane Giardini), onde são ensinadas diversas modalidades de dança.

Há também aqueles que preferem se exercitar de forma mais radical, adotando o Parkour. Led (Guilherme Leicam) e seus amigos são fãs do esporte, cujo desafio é usar a própria arquitetura da cidade como obstáculo para saltos e manobras.

E tem a música... Ao ar livre e sem cobrança de ingresso, os paulistanos se reúnem para apresentar melodias que adoçam a vida, por vezes amarga, de quem circula pelo centro. Uma das musicistas de ‘Tempos Modernos’ é Miranda Paranhos (Eliana Pitamn), que integra uma banda formada por moradores da região.

Para aqueles que preferem alimentar a alma com a cultura e o corpo com algo mais palpável, o caminho é a pizzaria de Pasquale (Genézio de Barros), a Pasquale & Pasquale Pizza Volante. O lugar não tem nada de requintado, mas é um ponto de encontro para bater papo, rever amigos ou experimentar mais uma das exóticas receitas criadas pelo dono do estabelecimento, um cearense metido a italiano.

E a vida no centro não para por aí. Andando mais um pouco pelos arredores do Vale do Anhangabaú, chega-se ao “Pilhanatural de Meditação, Relaxamento e Autoconhecimento“. No SPA de Bodanski (Otávio Müller), são cobradas verdadeiras fortunas por tratamentos estapafúrdios que prometem o equilíbrio do ser humano.

As primeiras gravações

Foi no centro de São Paulo, local escolhido para ambientar ‘Tempos Modernos’, onde aconteceram as primeiras gravações da novela. Durante 40 dias, a contar do comecinho de outubro, direção, produção e elenco estiveram na capital paulistana para rodar cenas como um importante encontro de Nelinha (Fernanda Vasconcellos) e Zeca (Thiago Rodrigues), a festa de lançamento do Titã II e a comemoração do aniversário da cidade, que terá destaque na trama.

Vale do Anhangabaú, Viaduto do Chá, Viaduto Santa Ifigênia, Praça Ramos de Azevedo, Avenida São João, Rua Líbero Badaró, Largo São Francisco foram alguns dos pontos de São Paulo que serviram como locação para as imagens iniciais que serão exibidas em ‘Tempos Modernos’.

“Em nosso planejamento para gravar em São Paulo, a maior preocupação sempre foi a dimensão do Vale do Anhangabaú, pois precisávamos ter agilidade no dia a dia e uma boa infraestrutura para atender às necessidades. O desenho de produção foi adequado para uma longa viagem, que durou 40 dias. Nos preocupamos com vários detalhes para realizar os eventos, como o do rapel visto logo nas primeiras cenas da novela. As saídas para as gravações aconteciam bem cedo e montamos uma estrutura de apoio para atender ao elenco, à figuração e às equipes de cenografia, produção de arte e caracterização”, explica Carla Mendonça, gerente de produção, acrescentando que o fato de concentrar as gravações no Centro antigo da cidade deu rapidez e facilidades à produção.

Cenografia e Produção de Arte

Quem pensa que ‘Tempos Modernos’ se restringe às gravações externas se engana. As equipes de cenografia e produção de arte receberam a encomenda de trazer parte do centro de São Paulo para a Central Globo de Produção. Como a história se passa na região do Vale do Anhangabaú e em partes da São João, uma das ousadias da produção da novela foi reproduzir um trecho desta avenida na cidade cenográfica. Há quase 7 mil metros quadrados de área construída e os destaques são o Titã, a Galeria, a Pizzaria Pasquale & Pasquale, o SPA Pilhanatural e a Escola de Dança.

Embora a produção seja uma ficção, o objetivo é que o público olhe para as cenas e identifique um pedacinho da cidade exatamente como ela é na vida real. O cenógrafo Fábio Rangel explica que o desafio foi trabalhar com dimensões tão gigantescas, já que a maior parte do que é encontrado nesta megalópole está em grandes escalas.

É na Avenida São João onde está a Galeria, cuja inspiração foi a Galeria do Rock, um dos espaços mais conhecidos e visitados do centro de São Paulo. Para sair do papel, o projeto foi detalhado ao máximo, o que facilitou a montagem. O cenário tem 36 metros de extensão e 18 metros de largura. São três andares construídos e 30 lojas, onde trechos importantes da história se desenrolarão. Cada espaço ganhou cuidado especial, com design e móveis específicos, vitrines decoradas e diversos detalhes que falam a mesma língua de seus personagens.

Para compor o interior das lojas, Andréa Penafiel, responsável pela produção de arte, conta que alguns estilos, como o gótico e o vegan (produtos naturais, 100% ecológicos), presentes na Galeria, foram pesquisados até mesmo fora do país.

O Titã é mais uma das construções encontradas na cidade cenográfica. O prédio fictício seguiu à risca a arquitetura da fachada do cenário original, o Edifício Grande São Paulo, erguido na década de 70. Essa preocupação, a de trazer para a trama as lembranças de um centro antigo e rico de histórias, sempre esteve presente na equipe de Fabio Rangel. “Fizemos diversas visitas à cidade e trouxemos muitas fotografias. Isso ajudou bastante. Quanto mais minucioso for o projeto no papel, mais fácil é a sua montagem. O mais complicado, a Galeria, foi uma boa surpresa. Colocá-la de pé foi mais fácil do que esperávamos, porque já conhecíamos todos os seus detalhes”, diz o cenógrafo.
Cenários criados especialmente para a novela, como a Pizzaria Pasquale & Pasquale, seguem a mesma estética do centro de São Paulo. A pizzaria, localizada na esquina do calçadão da Av.São João, foi inspirada em bares que existem na região. A Pasquale & Pasquale é uma cantina com clima de botequim.

Saindo da cidade cenográfica, há ainda os 40 cenários do estúdio. O Titã, construído em aço e vidro, tem diversos apartamentos de tamanhos variados, alinhados às características dos personagens.

O apartamento de Leal (Antônio Fagundes), que fica perto da cobertura, mostra um pouco da personalidade de seu morador. Rústico, simples e ligado à arquitetura, em sua casa há obras de arte que datam da época do modernismo. De acordo com a produtora de arte, Leal não tem uma casa que ostenta riqueza, embora dinheiro não seja um problema para ele. Aliás, há vários elementos que tornam vivo o seu passado, do qual tanto se orgulha. Na sala há maquetes de grandes prédios que ele ajudou a erguer, plantas de algumas construções e objetos que remetem ao universo da construção civil.

Leal mora com suas duas filhas, Nelinha (Fernanda Vasconcellos) e Regeane (Vivianne Pasmanter). A caçula Nelinha, formada em Astronomia, tem um quarto bastante lúdico. É lá onde podem ser encontrados instrumentos, como um telescópio usado para estudar o céu e seus astros. Ao contrário de suas irmãs, ela dispensa sofisticação e luxo. O quarto traduz parte do espírito livre da personagem, que chama atenção para o fato de que mesmo nos dias de hoje, com toda a correria da modernidade, é possível parar um pouco e olhar para as estrelas. O esporte, tão presente na vida de Nelinha, também serve de inspiração para a decoração de seu quarto.

Já a vazia Regeane, consumista e carente ao extremo, que busca o amor de seu pai, vive num ambiente que mistura o chique e o brega. Em seu universo, o dourado é uma das cores predominantes. Extremamente vaidosa, a filha mais velha de Leal é cercada por várias fotos dela mesma, claro! Rica e consumista, seu closet causa inveja em qualquer mulher. Há incontáveis pares de sapatos, aparelhos de celular, perfumes... além de caros produtos de maquiagem e jóias, muitas jóias.

A filha Goretti (Regiane Alves) é arquiteta e metida a entender de artes plásticas. Seu apartamento é reflexo disso, com altas doses de seu gosto duvidoso, embora tenha sido decorado por um profissional. Ela usa e abusa do preto e do branco e a cor fica por conta de seu figurino e das quatro Marias, que pintam e bordam no Titã. Elas dividem um único quarto, que se modifica de acordo com o humor das meninas. Em alguns momentos, por exemplo, as quatro camas se transformam num único espaço para as filhas de Goretti dormirem juntinhas.

A personalidade de Bodanski (Otávio Müller), marido de Goretti, também pode ser facilmente identificada no apartamento da família. Profissional de araque, o “doutor” tem pendurado em suas paredes alguns diplomas falsos, produzidos por ele mesmo. Assim como seu nome e sua carreira, quando o assunto é Bodanski, nada pode ser considerado seguro ou verdadeiro.

Hélia mora num apartamento bem diferente dos demais imóveis. O fato de ser proprietária lhe garantiu a liberdade de fazer uma obra e deixar a casa com a sua cara. A personagem “briga” um pouco com a arquitetura rígida e quadrada do Titã. No universo de Hélia, há muitas cores, arcos e curvas. É uma casa feminina, quente e latina, assim como a professora de dança.

Depois de passar anos viajando por diversos países, Hélia colocou um ponto final em sua carreira como bailarina em São Paulo. Mas em cada lugar de sua casa há lembranças de suas turnês e seus espetáculos. Cartazes de seus shows e fotos em cena ajudam a decorar o ambiente, que tem toques cubanos em diversos detalhes. Para Hélia, Cuba tem um gosto especial, pois foi neste país que ela se formou como dançarina profissional.

Hélia divide o apartamento com o filho, Zeca (Thiago Rodrigues). O quarto do rapaz parece não fazer parte do restante da casa, que tem uma personalidade forte e colorida. Neste cômodo, nada está fora do lugar, assim como ele pensa que as coisas devem funcionar em sua vida. A rigidez na arrumação foi aprendida na época de seu treinamento militar.
Miranda Paranhos (Eliana Pitman), que logo no começo da trama recebe, em casa, sua nora, Iolanda (Malu Galli), tem um apartamento com cara dos anos 50. Como boa arquivista, a organização é predominante neste lar. Tudo nos devidos lugares, ordenado de acordo com seus próprios critérios. A música, uma grande paixão, também está presente na vida de Miranda e o público perceberá em pequenos toques de decoração.

A casa de Ramón (Leonardo Medeiros) é uma grande mistura de estética e de objetos que datam das décadas de 60 e 70. O apartamento traz o moderno e o antigo, às vezes convivendo, às vezes contrastando. Porém por lá só entra um tipo de música, o rock pesado. Há discos e cartazes de suas bandas preferidas ajudando a compor o cenário, que também é influenciado por um clima de Woodstock.

No lar onde também vivem Jannis (Aline Peixoto) e Led (Guilherme Leicam) há muita coisa pelos cantos, espalhando cores e informações pelos cômodos da casa. O apartamento só tem dois quartos, por isso os irmãos dividem o mesmo espaço. Quem sai perdendo com isso é Jannis, que precisa se encontrar num ambiente que não tem quase nada de feminino. Aliás, ela é a única mulher da casa, por isso tenta colocar ordem na bagunça do pai e do irmão.

A ginecologista Lavínia (Cláudia Missura) é uma mulher de família rica, mas que não dá sorte no que faz. Andréa Penafiel avisa que o bom gosto na escolha da mobília e na arrumação dos objetos está presente neste cenário, assim como o toque romântico em pequenos detalhes.

O humor é um dos pontos altos no apartamento de Zuppo (Pascoal da Conceição) e Faustaço (Otávio Augusto). Amigos de Leal, eles dividem um pequeno apartamento que ganharam de presente. O lugar não é o exemplo de organização, mas a dupla consegue se virar bem num espaço tão restrito.

O Titã conta ainda com passagens secretas, que serão usadas pelo autor, Bosco Brasil, para levar o público a surpresas ao longo da história. Outra área bem escondida no prédio é a sala de Albano (Guilherme Weber), que somente ele e Deodora (Grazi Massafera) conhecem. É deste local, no subsolo do edifício de Leal, que controla as câmeras ligadas estrategicamente em alguns pontos do Titã.

Saindo do Titã e chegando ao “Pilhanatural“, o telespectador vai encontrar um lugar que dá vazão às loucuras de Bodanski (Otávio Müller). O que há de esquisito e inusitado, lá está. Para a produtora de arte Andréa Penafiel, este é um dos cenários mais difíceis de compor, pois tanto os personagens que transitam por este ambiente quanto as situações que acontecem por ali são surreais e surpreendentes. No SPA há várias esculturas assinadas por Goretti. Já a maioria dos objetos, seja de decoração ou aqueles usados em tratamentos e terapias, tem funções e formatos engraçados e incompreensíveis.

Já a Escola de Dança de Hélia, um sobrado antigo, tem paredes velhas e descascadas. Nem por isso deixa de ser charmoso. Com cortinas de veludo e piano preto, os ambientes se modificam de acordo com as aulas oferecidas na escola.

Outro cenário bastante lúdico da novela é o universo de Tio Fidélio (Ricardo Blat). Ele mora na cúpula do Teatro Municipal. O ex-zelador foi um talentoso pintor de telões de ópera e balé e, em seu quarto, há pinturas, móveis de época, armaduras antigas, fantasias e adereços usados em espetáculos que já estiveram em cartaz no Municipal. As equipes de cenografia e produção de arte produziram diversas peças para construir esse mundo tão particular, como pequenas maquetes de antigos cenários de famosas óperas.

Há ainda o mundo de Niemann (Marcos Caruso). As primeiras gravações aconteceram na Casa de Niemeyer, que fica na cidade do Rio de Janeiro e tem uma disposição especial dos cômodos, com os quartos localizados no primeiro de dois andares. No estúdio, Niemann ganhou um cenário semelhante à locação, onde são utilizados móveis idênticos aos do famoso arquiteto Oscar Niemeyer.

Nelinha (Fernanda Vasconcellos) e Portinho (Felipe Camargo) vão passar grande parte do tempo em um laboratório de Astronomia, afinal ela sonha em descobrir um novo planeta para batizar com o nome de seu pai. Nessa espécie de planetário, há elementos de fácil associação ao universo da filha de Leal, como lunetas e telescópios.

Há ainda um cuidado especial com os carros que serão vistos circulando pelas ruas do centro da cidade. Eles também dizem muito sobre os personagens, como no caso de Nelinha. Fascinada por liberdade e adrenalina, a jovem astrônoma dirige um jipe vermelho, ano 1972. Radical até na hora de pegar o volante, ela assusta seu melhor amigo, o inseguro Portinho, que rejeita sua carona sempre que pode.

É por essa e outras razões que Portinho prefere o seu sidecar, um veículo de três rodas formado por uma motocicleta e um pequeno carrinho preso ao seu lado. O inusitado meio de transporte serve para que ele e sua ex-mulher, Regeane (Vivianne Pasmanter), façam românticos e desastrados passeios pela cidade. Devidamente equipado, Portinho anda pra baixo e pra cima com capacete e óculos apropriados e, do jeito que tem a cabeça nas nuvens, esquece de tirá-los mesmo quando anda a pé pelas ruas. Já Regeane, que não abre mão do glamour, tratou de providenciar um capacete bem “chique”- pelo menos segundo os seus critérios – para andar literalmente ao lado de seu ex.

Outro veículo, no mínimo curioso, é a maternidade portátil. A ousada ideia vem da cabeça de Lavínnia (Claudia Missura), que sempre se dedica de corpo inteiro aos projetos - e que nem sempre acabam bem. Apoiada por seu amigo, o enfermeiro Lindomar (Edmilson Barros), ela investiu todo o dinheiro que tinha em equipamentos específicos para serem usados em uma maternidade, mas para serem instalados em um carro de passeio. Este centro cirúrgico móvel é todo decorado com cegonhas, em fundo rosa bebê – cor predileta da médica.

Para se aproximar um pouco mais da realidade da capital paulistana, circulará pela cidade cenográfica de ‘Tempos Modernos’ um ônibus elétrico. Assim como pode ser visto nas ruas do centro, o veículo ganhou uma roupagem especial, uma grande foto da cidade colada em toda a sua lataria.

Preparação do elenco

Foi pensando em dar vida a personagens com características tão específicas que o elenco de ‘Tempos Modernos’ vem se dedicando desde agosto a cursos e treinos, que vão desde classes de artes marciais a noções básicas de violoncelo. Aulas como técnicas de rapel, artes marciais e parkour foram as primeiras a acontecer. Fernanda Vasconcellos, Thiago Rodrigues, Grazi Massafera, Cris Vianna, Guilherme Leicam são alguns atores que entraram em ação para chegar ainda mais perto do universo de seus personagens.

Em setembro, a Rede Globo promoveu um workshop com duração de três semanas para o elenco se familiarizar com a história de Bosco Brasil. Os atores puderam aprender a tocar instrumentos como cavaquinho e trombone. Técnicas de massagem corporal, krav magá (defesa pessoal), tiro, jogo de xadrez e visitas guiadas a uma maternidade, à sala de segurança de um shopping carioca e ao Observatório Nacional do Rio de Janeiro estiveram no cronograma das atividades.

Figurino e Caracterização

Trazer São Paulo para a tela através de cada detalhe dos personagens foi um dos desafios das equipes de figurino e caracterização de ‘Tempos Modernos’. A escolha se dirigiu à sobreposição de peças, muitos acessórios e looks que, em sua maioria, fogem de um estilo formal.

O ponto de partida é Leal (Antônio Fagundes). Segundo a figurinista Emília Duncan, predomina para este personagem o mais modesto, nunca o exagero. Azul e branco são as cores preferidas para marcar a leveza de alma e o romantismo do personagem. O jeans é a peça-chave, uma escolha que está totalmente relacionada ao arquétipo do trabalhador do século 19. Incorporar este tecido ao seu figurino é mais uma forma de mostrar o quanto o dono do Titã valoriza o seu passado, o período em que atuou na construção civil.

O jeito básico e pé no chão de Nelinha (Fernanda Vasconcellos) pode ser facilmente identificado em seu figurino e na maneira como lida com sua vaidade. Unhas pintadas com cores claras, maquiagem delicada para ressaltar o que já é naturalmente bonito e cabelos penteados com o vento das alturas. O amor pela astronomia está nas três delicadas estrelas tatuadas em seu braço, nas suas roupas e acessórios, como o inseparável pingente de estrela cadente que usa no pescoço.

A figurinista Emília Duncan explica que ressaltar os olhos verdes da atriz foi um dos focos do estudo para a criação do figurino de Fernanda. A sonhadora Nelinha também ganhou algumas peças um pouco mais escuras, para manter vivo o espírito jovem e aproximá-la da tribo do rock, mais exatamente da Galeria, onde tem muitos amigos.

Vivianne Pasmanter e Regiane Alves ganharam fios louros e novos cortes de cabelo para viver, respectivamente, Regeane e Goretti. Regeane é uma perua que prefere tudo falso: cílios e unhas postiças e peruca para alongar as madeixas. Já Goretti adora usar pedras em seus acessórios. A arquiteta, que pensa entender de artes plásticas, aposta num visual bem moderno, mas carente de bom gosto – pelo menos no que se refere ao excesso.

Embora as duas só se preocupem com as aparências e apostem no exagero, há diferenças no estilo das irmãs. Regeane parece que está com a roupa errada no lugar errado, coisa que acontece com uma frequência inacreditável. E é fácil entender o porquê. Estampas de onça, bordados, paetês, cor dourada e muito brilho não podem faltar em seu guarda-roupa.

Com Goretti o problema é outro. O seu figurino foi desenhado a reboque do marido, Bodanski (Otávio Müller). Influenciada e “orientada” por ele, a filha do meio de Leal (Antônio Fagundes) usa e abusa de pedras – de preferência semipreciosas – e suas roupas se orientam pela sorte do dia. “A ágata, por exemplo, é seu principal acessório nos momentos em que ela quer harmonizar e fortificar o corpo“, brinca a figurinista Emília.
Já os “looks” de suas filhas são bem distintos um do outro, marcando cada uma das quatro personalidades, sem deixar de lado a adequação à idade de todas elas. Tatiana Rodrigues, que também assina o figurino da novela, conta que, por se tratar de uma obra com boas pinceladas de comédia, é permitido flertar com o lúdico na hora de vestir alguns personagens.

A “chanelzinha”, apelido dado à Maria Helena (Rebecca Orenstein) pela equipe do figurino, vai deitar e rolar no que há de mais clássico na moda. Xadrez, listras e cores como o azul marinho fazem parte de seu repertório. Ela é o contraponto da mãe, que passa longe do bom gosto e do equilíbrio na hora de se vestir.

Maria Clara (Jeniffer de Oliveira Andrade), a mais brigona das quatro, vai usar muita bermuda com camiseta e vários macacões. Tênis e boné compõem o seu visual, que mais se parece com o de um menino, com seu skate sempre embaixo do braço.

A mais velha e também a mais imatura é Maria Eunice (Polliana Aleixo). Mesmo com 15 anos de idade, o seu estilo teen ganha detalhes que remetem ao mundo infantil. Nas camisetas há desenhos de ursinho e, nos vestidos, estampas de bonecas. Maria Eunice usa muitas saias e sapatilhas, revelando a delicadeza inerente a uma criança.

Uma miniatura de Goretti. Resumindo, assim é Maria Eugênia (Ana Karolina Lannes), a caçula da família. Ela adora usar os apetrechos da mãe, como aquelas crianças que vivem brincando com imensos sapatos e jóias normalmente guardadas a sete chaves. Apesar de ter uma linguagem infantil, Maria Eugênia se vestirá com roupas coloridas, galochas, boinas e vários outros acessórios, pois filha de peixe, peixinho é!

O pai das meninas, Bodanski (Otávio Müller), é um charlatão que provavelmente acredita em suas próprias mentiras. Para isso, ele vive em um mundo fictício 24 horas por dia, usando ternos claros, como se estivesse pronto para uma palestra de auto-ajuda.

O núcleo dos roqueiros ganhou cuidados especiais. Leonardo Medeiros, o Ramón, traz tatuagens antigas nos braços e um visual a la heavy metal. “Ter a parceria do diretor e dos atores é fundamental para conseguir um bom resultado. O caso de Leonardo é um exemplo disso. Pensamos em camuflar os traços românticos naturais do ator. Por isso optamos pelo bigode “metaleiro” e o cabelo punk para dar atitude a Ramón. Esse é o nosso papel, dar ferramentas para ajudá-los na construção de seus personagens”, afirma Juliana Mendes Mendonça, caracterizadora da novela.

Mesmo sendo um roqueiro das antigas, o objetivo da equipe de figurino foi fugir do visual estereotipado. Para evitar a caricatura, o caminho foi buscar a verdade nas calças e jaquetas jeans desgastados pelo tempo de uso e em camisetas das bandas preferidas do personagem.
Os filhos de Ramón seguem a linha rock’n roll do pai. Aline Peixoto, que dá vida à Jannis, tem os olhos bem marcados e um visual jovem. A filha “protegida do papai” tem uma tatuagem que o homenageia, com a palavra dad (pai, em inglês) escrita dentro de um coração pintado em seu braço. O figuro não tem sofisticação e a referência é a moda street wear. Quem olha para Jannis vê uma menina ousada, que mistura jeans mais claros com acessórios dos anos 80.

Túlio (João Baldasserini), um dos heróis de ‘Tempos Modernos’ e por quem Jannis se apaixona, é um rapaz jovem e encantador. As jaquetas de nailon, tão comuns a motoboys, sua profissão, são muito usadas. Mas, na trama, a cor preta, muito vista nas ruas de São Paulo, será substituída por tons mais vibrantes e alegres.

Com Led, personagem de Guilherme Leicam, a história é diferente. Sua sedução pelo erudito é marcada por algumas peças que garimpa em brechós, como um velho smoking. As figurinistas Emília Duncan e Tatiana Rodrigues detalham que há um certo estilo de vanguarda nesta composição e o resultado visto na tela vem da união inusitada de um roqueiro com um maestro.

Gualês (Jairo Mattos), amigo fiel de Ramón, é um homem de atitude. Justamente por isso, todo o seu despojamento acaba dando certo na hora de compor seu visual. Ele não é uma pessoa antenada às últimas tendências da moda, longe disso! Ele usa o que gosta e pronto. Cada roupa ou acessório escolhido parece ter sido comprado há muito tempo e, de tanto usar, ficou com cara de envelhecido, surrado.

Uma das construções mais trabalhosas é a de Bárbara Tatoo (Luciana Borghi). A caracterizadora Juliana Mendes Mendonça precisou pensar em desenhos interessantes para serem usados por uma mulher que trabalha como tatuadora. O caminho foi buscar inspiração no visual da pin-up dos anos 50. O figurino, por sua vez, conta com roupas que deixam à mostra os desenhos em sua pele.

Amiga de Bárbara (Luciana Borghi) e uma das lojistas da Galeria, Milena, personagem de Janaína Ávila, é a gótica da turma. Ela ganhou um corte de cabelo mais moderno e uma maquiagem que ressalta seus olhos. Milena mais se parece com uma bonequinha de filme de terror cheia de elegância. Em suas roupas, o tule é muito usado e a cor inevitável é o preto, que combina com suas tatuagens e com os apetrechos vendidos em sua loja.
Aliás, muitos atores ganharam na ficção tatuagens para ajudar a compor seus personagens. Para isso a caracterizadora visitou diversos estúdios de “tatoos”, na tentativa de desvendar alguns segredos desta arte e pesquisar quais seriam as melhores tintas, cores e figuras a serem usados pelos atores.

Foi no cinema onde Juliana Mendes Mendonça buscou referências para diversas composições. Quando morou em Londres, ela pôde ver de perto como funcionam as produções de longas e trouxe isso para seus trabalhos.

Ao sair da Galeria e seguir em direção ao Titã, mais especificamente rumo ao núcleo de vilões, surge Albano, personagem de Guilherme Weber. O ator ganhou uma barba serrada e cabelo curtinho, com ares de modernidade. Seus ternos elegantes são especialmente compostos por calças justas, que ajudam a dar a sensação de que ele é mais alto e magro do que é na realidade. Albano é como uma lâmina bem afiada. E, para dar um toque de desenho animado ao personagem, ele usa óculos com armação de estampa de tartaruga. Essa brincadeira quebra um pouco da rigidez em seu visual, já que o vilão protagonizará cenas cômicas aos olhos do telespectador, especialmente quando alguns de seus planos ridículos e mirabolantes vão por água abaixo.

Sua cúmplice e amante, Deodora (Grazi Massafera), está sempre pronta para o ataque. O figurino é colado no corpo para revelar sua sensualidade e lhe permitir liberdade de movimentos, afinal ela é chefe da área de segurança do Titã. Cabelos e unhas geometricamente alinhados, dão ideia da frieza da vilã. Ela também carrega algumas tatuagens, que nem sempre estão visíveis. Desenhos, símbolos e inscrições pelo corpo em outros idiomas como chinês, árabe e sânscrito dão sinais de que se trata de uma mulher de fato misteriosa.

Sempre vestida de preto, Deodora parece ter saído das histórias em quadrinho. Mulher fatal, seus trajes abusam de texturas, lycras, transparências e corseletes. As ombreiras, símbolo de poder, fazem parte de seu figurino, assim como cintos nada simplórios que remetem à alta costura. De acordo com Emília Duncan, o estilista francês Thierry Mugler, sucesso nos anos 80, foi uma das grandes inspirações para o figurino da vilã.

De volta aos personagens que nada têm a ver com as maldades da história, é a vez da “caliente” Hélia (Eliane Giardini), uma ex-bailarina cheia de vida e cor. Os longos cabelos avermelhados, com cachos que também revelam um tom adocicado de mel, ajudam a desenhar essa mulher que tanto mexe com a cabeça e o coração de Leal (Antônio Fagundes). Com personalidade forte e muita atitude, Hélia escolhe suas roupas como alguém que já rodou o mundo e criou seu próprio estilo, sem se preocupar com modismo. Malhas e transparências compõem o figurino da ex-bailarina, que está sempre em movimento. As calças pantalonas de cintura alta serão a sua assinatura. O jeito de vestir de Hélia foi pensado para ser acessível a qualquer mulher.

Já o filho, Zeca (Thiago Rodrigues), é o oposto do estilo de Hélia. O jeitão militar está claramente em suas roupas, como as blusas de gola em “v”, as cores verde e cinza e as camisas com bolsos.

Nara (Priscila Fantin), a dançarina que entra na história para tumultuar o relacionamento entre Zeca e Nelinha, não tem muito dinheiro para investir em grifes. Ela leva para as ruas a moda que usa na academia. Saias, malhas, camisetas e camisões serão as preferências dessa jovem feminina e decidida. A década de 80 está presente em seu estilo, que é cheio de cores e tons fortes. Ela é vibrante e entrará desta forma na vida de Zeca, como um raio, diferente de Nelinha, a estrela do triângulo.

Histórias escondidas em diversos personagens prometem movimentar ‘Tempos Modernos’. Como é o caso da internacional Ditta, uma diva da música clássica. Para se tornar essa cantora lírica, Alessandra Maestrini está com os cabelos longos e ruivos. A personagem entra na trama com um figurino elegante, desenhado em cores sóbrias. Mas o passado roqueiro de Ditta ainda está presente em seu estilo, em chapéus e peças que valorizam sua silhueta.

O arquétipo da mulher da década de 50 foi a diretriz para a criação do figurino da personagem de Malu Galli, Iolanda Paranhos. Delicada e com características maternais muito fortes, ela é a salvação de Goretti no que se refere à educação de suas filhas. Cores suaves, listras e casaquinhos determinam a sua forma de vestir. Esse visual ajuda a manter uma imagem de mãe postiça, dispensando qualquer tipo de uniforme.

A figura do astrônomo Portinho, papel de Felipe Camargo, vai se transformar ao longo da trama. Os cabelos não serão cortados, remetendo a quanto o personagem vive no mundo da lua e não liga para sua aparência. Ele é do tipo que compra roupas em brechós e demora muito para renová-las. Xadrez e jeans são as suas preferências.

“Até chegar à composição final dos personagens, pesquisei diversos universos e observei fontes distintas. Precisávamos pensar em algo real, crível, sem exageros. Depois da pesquisa e das orientações da direção, brincamos com manipulações no computador para ver o que de fato funcionava”, explica a caracterizadora da novela.

No caso de Claudia Missura e Edmilson Barros, que vivem a rica ginecologista Lavínnia e o enfermeiro Lindomar, as cores claras estão em alta, e tudo em tom bebê ou pastel. Cláudia ganhou cabelos cacheados para ter um ar bastante sofisticado. O figurino é também caprichado nos detalhes, que sempre remetem ao seu trabalho. Já Lindomar, que finge não gostar do sexo oposto, precisa caprichar no visual para convencer as pessoas mais próximas de que não se abala quando fica frente a frente a uma mulher. Nas aulas de dança, pois ele é um dos alunos de Hélia, o enfermeiro vai deitar e rolar em malhas que camuflem o seu lado machão. Mas é dentro de casa que Lindomar mostra quem é de verdade. Camisetas velhas, furadas e até um pouco encardidas e tênis para jogar “uma peladinha” com os amigos são peças facilmente encontradas em seu guarda-roupa.

Valvênio (Alexandre Cioletti), figura inseparável da dupla Lavínnia e Lindomar, é um rapaz extremamente tímido e que esconde sua paixão pela ginecologista. Com talento de sobra para lidar com assuntos relacionados à tecnologia, Valvênio segue a linha dos “nerds” tradicionais, com direito à gravata, colete de lã e camisa abotoada até o pescoço.

Os amigos de Leal, Faustaço (Otávio Augusto), Zuppo (Pascoal da Conceição) e Pasquale (Genézio de Barros), são a ligação do dono do Titã com o seu passado. Faustaço é um homem comum, que gosta de combinações clássicas, como os coletes de lã com calça jeans. Já Zuppo está sempre de macacão, como se ainda não tivesse saído dos canteiros de obras. Pasquale traz em seu figurino e na caracterização – com direito a dente de ouro – a mistura do italiano com o cearense. Ele prefere roupas confortáveis, como calças de cintura alta e jalecos, para passar o dia trabalhando na pizzaria.

Tio Fidélio (Ricardo Blat) está sempre alinhado e parece ter parado no tempo. O fato de usar peças antigas, quase empoeiradas, não lhe rouba a elegância na hora de se vestir.

Efeitos gráficos e visuais

Logo no primeiro capítulo da novela, Leal (Antônio Fagundes) tem um sonho aterrorizador. Um momento em que ele se vê sozinho numa cidade que se desconstrói, literalmente. Para levar esse feito à tela, foi executado um complexo trabalho gráfico, envolvendo composições com fotografias e técnica 3D.

Frank, o super computador que controla o Titã e, de certa forma, a vida das pessoas, se comunica por meio de uma lente. O telespectador pode ver, sob a ótica de Frank, aquilo que acontece ao seu redor. E não é difícil saber quando o que está sendo mostrado é o ponto de vista do temperamental computador. As imagens têm um tratamento especial, modificadas por uma lente grande angular chamada ‘olho de peixe’. As cenas ficam distorcidas, com dimensões desproporcionais e bem diferentes do normal.

O vilão Albano (Guilherme Weber) só consegue colocar em prática alguns de seus planos porque tem a seu favor aparatos tecnológicos ultramodernos: baratas espiãs. O minúsculo robô, com a estranha aparência de um inseto, circula por diversos ambientes registrando conversas, segredos, encontros e discussões. O curioso bichinho ganha vida graças à computação gráfica.

A cenografia também utiliza recursos de computação gráfica para trazer parte de São Paulo até a cidade cenográfica da novela, construída no Rio de Janeiro. Durante as gravações na capital paulista, a equipe de produção captou inúmeras imagens de locais específicos do centro, para serem inseridas em áreas pré-definidas do cenário.

No estúdio, um dos trabalhos da equipe de efeitos gráficos e visuais é a realização de uma espécie de museu, que funciona dentro do Titã, com imagens que revelam detalhes e mistérios de toda a vida de Leal. No lugar são armazenadas fotos e holografias do protagonista, produzidas com recursos de computação.

Entrevista com o autor, Bosco Brasil

O dramaturgo Bosco Brasil nasceu em Sorocaba e começou sua vida profissional em São Paulo, onde a novela é ambientada. No centro da capital paulista, viveu seus dias como office-boy antes de começar a escrever para o teatro e para a TV. São mais de 30 peças de sua autoria e sete novelas que tiveram sua colaboração, como ‘Anjo Mau’, ‘Torre de Babel’ e ‘Coração de Estudante’. Na Rede Globo, é a primeira vez que assina uma obra, sob a supervisão de Aguinaldo Silva.

Em mais de 20 anos de carreira, Bosco também já atuou como diretor teatral e roteirista. Ao longo de sua trajetória, recebeu diversos prêmios como Shell e Molière, nos quais foi eleito o melhor autor. Em seu currículo estão produções como ‘Budro’ (premiada em 1994), ‘Atos e Omissões’, ‘Blitz’, ‘Medo de Chuva’, ‘à Putanesca’, ‘100 Gramas de Dentes’, ‘Corações Encaixotados’, ‘Cheiro de Chuva’ e ‘Novas Diretrizes em Tempos de Paz’, que ganhou uma versão para o cinema em 2009.

Bosco Brasil declara ser fã tanto da comédia quanto do drama, principalmente quando esses gêneros conversam entre si, como será visto em ‘Tempos Modernos’. Mas ele explica que não se trata de uma tragicomédia, mas de histórias trágicas vividas por personagens cômicos.

A paixão pelo teatro nasceu quando Bosco tinha apenas 13 anos, após ter assistido à montagem de Antígona. Na década de 80 formou-se em Teoria do Teatro – Dramaturgia e Crítica, pela Escola de Artes Cênicas da Universidade de São Paulo.

Qual foi a principal motivação para escrever Tempos Modernos?
Bosco Brasil: Há uns três anos, essa história vem tomando forma. Primeiro, pensei na nossa interação com a tecnologia, que rende situações bem engraçadas. Às vezes parece que essa tecnologia ganha vida própria, só para debochar da nossa cara. Outra questão que me incomoda muito é essa moda de vender uma ilusão chamada segurança com risco zero, coisa que definitivamente não existe. Hoje pagamos para ser vigiados. Foi desta forma que cheguei ao universo dos edifícios inteligentes. Depois, faltava apenas achar um lugar onde encaixar isso tudo. Escolhi a região pela qual que tenho mais carinho, o centro antigo de São Paulo, lugar que conheço bastante e que tem uma riqueza humana incrível.

Por que uma história que se passa no centro de São Paulo?
Bosco Brasil: Se você quer saber onde está o seu tesouro, você precisa ir aonde o seu coração te leva. O meu está no centro velho de São Paulo. Até o século 20, a cidade se restringia ao triângulo onde a novela se passará. Não é incrível? O interessante dali são as pessoas, os personagens e os relacionamentos. E é nesta região onde todos se encontram e se unem pelas diferenças. Essa população é livre, vive no anonimato e tem sua identidade guardada neste ponto da cidade.

Eu tenho uma visão mítica do centro, onde as pessoas podem se reunir. Mas hoje em dia sei que o local virou uma periferia da cidade. A vontade de ter um centro revitalizado é um sentimento que existe no paulistano de maneira geral. Percebo que há uma intenção de ocupar o lugar culturalmente e transformar a região num núcleo de atividades como se fosse uma praça de artes. Na novela, vamos poder acelerar isso.

Como você desenha os seus personagens?
Bosco Brasil: Em ‘Tempos Modernos’ os personagens agem no calor da paixão. As situações são trágicas e os personagens, cômicos, pois o bom humor é o único recurso que eles têm para sobreviver. Claro, sem cair no exagero. Essas figuras não compreendem a dimensão do que se passa a seu redor, como alguém com uma personalidade trágica faria. Mas esses personagens compreendem o que se passa em seus corações, em seus sentimentos. Essa característica tão sanguínea permite que os erros humanos sejam cometidos, pois ninguém age com a razão, apenas com o coração. Todos reagem emocionalmente, de forma muito rápida, fazendo o bem ou o mal. E isso é percebido nos diálogos.

Quem é o Frank?
Bosco Brasil: É um computador temperamental, amalucado, que conta piadas e meias verdades. Ele quer “ganhar” da humanidade. É uma grande brincadeira da novela. O Frank é o comentarista da cena e o público vai poder se enxergar nele. É o ponto de vista do telespectador, quase um jogo metalinguístico, permitindo que o público entenda as razões concretas dos personagens. O Frank é um convite ao telespectador para interagir e interferir nas histórias.

Qual é o grande desafio em escrever uma história com características de comédia?
Bosco Brasil: Esta é uma comédia livre, de invenção, sem extrapolar os níveis de absurdo. Gosto de mexer com os papéis sociais que estão em jogo, principalmente com o masculino. Quem é esse novo homem que precisa lidar com uma mulher que ganha cada vez mais proeminência na sociedade? Em personagens como o de Zeca (Thiago Rodrigues) e Portinho (Felipe Camargo), vamos ver certas inversões. E isso também obriga as mulheres a um exercício interessante, que é conviver com o antigo modelo feminino. Isso com certeza causará muitas risadas.

Você é fã de tecnologia ou é daqueles que perde feio na disputa com aparelhos eletrônicos?
Bosco Brasil: Fico completamente enrolado com essas coisas, a verdade é essa! Sou o oposto do meu irmão mais velho, um homem totalmente tecnológico. Eu sempre tive dificuldades em ler manuais e descobri que não sou o único. É claro que a tecnologia veio para nos ajudar. Mas a realidade é que ela cria uma série de necessidades novas, com as quais não estávamos habituados.

Você é um autor com grande experiência no teatro. Como foi o encontro com a TV?
Bosco Brasil: A minha carreira começa no teatro. É uma grande paixão, e será para toda a vida. Iniciei como ator em 1977, mas eu sempre quis ser autor. Então decidi estudar artes cênicas com especialização em dramaturgia. Neste período, nunca deixei de trabalhar nos palcos. Fiz de tudo: atuação, direção, iluminação e até administração de sala de teatro. Vieram as oportunidades para trabalhar como autor, e, depois de um tempo, fui para o rádio com a função de escrever radionovelas. O primeiro contato que tive com a TV foi um convite que recebi para a adaptação de uma novela. Foi apenas o ponto de partida para colaborar em diversas obras. Eu tive sorte de trabalhar com autores maravilhosos como Walter George Durst, Maria Adelaide Amaral, Alcides Nogueira e Silvio de Abreu, que me ensinou muitas coisas, entre elas, a estruturar uma novela. Eu costumo brincar que fiz a minha formação básica com o Durst, a faculdade com o Silvio e, agora, a pós-graduação está sendo com o Aguinaldo, um autor que sempre admirei pelo jeito tranqüilo como trabalha a realidade.

Há alguma trama que seja baseada em história pessoal?
Bosco Brasil: É claro que a novela traz um pouco da minha memória emotiva. As lembranças de São Paulo estão muito vivas em mim. Foi no “Centrão”, como é conhecido o centro de velho desta cidade, onde cresci, estudei e me tornei office-boy. Inclusive escrevi um livro, “Office-boy em apuros”, que relata um pouco deste período. Uma das surpresas da novela é a entrada de um personagem, um menino que perdeu o pai muito cedo. Na trama, ele deve ter uns 12 anos, a mesma idade que eu tinha quando o meu pai faleceu. É claro que é uma realidade que eu conheço bastante.

Entrevista com o diretor José Luis Villamarim

O mineiro José Luiz Villamarim trocou sua cidade natal pelo Rio de Janeiro e ganhou a grande São Paulo para ser o cenário da primeira novela que assina como diretor artístico. Formado em Economia, Villamarim sempre flertou com a arquitetura, o que lhe dá um gosto bastante apurado na hora de trabalhar as imagens nas cenas que dirige.

Desde 1995, Villamarim atua como diretor na Rede Globo. Além de novelas como ‘Rei do Gado’, ‘Andando nas Nuvens’, ‘Anjo Mau’, ‘Torre de Babel’, ‘Mulheres Apaixonadas’, ‘Cabocla’, ‘Bang-Bang’ e Torre de Babel, ele dirigiu a minissérie ‘Mad Maria’ e o episódio do programa ‘Por Toda a Minha Vida’ que homenageou o grupo Mamonas Assassinas e foi finalista do International Emmy Awards 2009.

Ao longo de sua trajetória, José Luiz Villamarim trabalhou com os diretores Luiz Fernando Carvalho, Carlos Manga, Denise Saraceni, Ricardo Waddington e Dennis Carvalho, com quem atuou em produções como ‘Anos Rebeldes’, ‘Desejo de Mulher’ e ‘Paraíso Tropical’.

Embora Villamarim tenha feito parte da equipe de ‘Anjo Mau’, cuja redação teve a colaboração de Bosco Brasil, a estreia da parceria entre os dois acontece agora em ‘Tempos Modernos’. De acordo com Villamarim, logo que soube que seria o diretor da novela, decidiu ir para São Paulo e ver de perto como é a realidade que serviu de inspiração para o autor. Aliás, foi exatamente neste momento em que ele encontrou um dos personagens importantes da trama, o prédio que na história é batizado como Titã.

Como foi gravar no centro de São Paulo?
José Luiz Villamarim: Foi maravilhoso e nós tivemos uma grata surpresa. Aproveitamos todos finais de semana e feriados, começando logo nas primeiras horas da manhã. Como a novela ainda não está no ar e temos muitas caras novas, foi fácil circular pela região. Além disso, escolhemos um local que tem muita facilidade de deslocamento, fundamental para uma produção, especialmente em TV. Circulamos por uma área que engloba a Líbero Badaró, o Teatro Municipal, o Viaduto do Chá, o Viaduto Santa Ifigênia e a Av. São João. Nós levávamos apenas 15 minutos para ir do set de gravação aos pontos de base, onde estavam a produção e os atores. Isso representa uma vantagem incrível, principalmente para transportar os equipamentos. Como pegamos um período de muita chuva, posso afirmar que este foi o único problema que tivemos e que nem foi tão complicado de resolver. Com o serviço de meteorologia avançado, conseguimos nos antecipar e moldar o roteiro às condições climáticas.

Foi difícil achar o fictício Titã na realidade do centro de São Paulo?
José Luiz Villamarim: Essa é uma história ótima. Quando li a sinopse pensei que precisava conhecer o universo do autor. Sou mineiro, moro no Rio de Janeiro e, embora já tenha gravado em São Paulo, tinha que chegar mais perto de sua realidade. Saber como seria a cara deste prédio determinava muito a forma como eu ia fazer a novela. Até então eu ainda nem tinha conversado com o Bosco e decidimos nos encontrar lá, na cidade onde a novela seria ambientada. Viajei uns dias antes para andar pelo centro, sozinho. Na minha cabeça o Titã tinha que ter uma arquitetura que marcasse bem uma determinada época, para coincidir com a história do protagonista, o Leal, que fez riqueza logo que chegou à cidade, entre as décadas de 70 e 80. Caminhando pela Praça Ramos, um prédio me chamou a atenção, por não chocar com as demais construções e por não exibir nenhum aparelho de ar condicionado na área externa. O edifico tinha ainda a vantagem de ser todo fechado, feito de vidro e metal, fundamental para a gravação de uma das mais importantes cenas da novela, o encontro do casal protagonista, durante uma manifestação contra Leal.

Como você está conseguindo transformar a atual cidade de São Paulo no cenário criado por Bosco?
José Luiz Villamarim: Aquecendo o centro. Partimos do conceito de que a cidade já está revitalizada e pensamos em criar um cenário crível onde vemos a música muito presente e skatistas, rappers, bailarinos, executivos, motoboys… convivendo de forma integrada. Não estamos inventando nada, só estamos chamando a atenção para algo que já existe e que precisa apenas ser reorganizado. A gente vai ver São Paulo sob uma ótica nova. Acredito que a própria população redescubra aquela área. À noite o centro ganha uma luz dourada, que se chama vapor urbano, que nos serviu de inspiração para colorir grande parte das cenas e ajudar no conceito de luz da novela.

Por que a decisão de fazer uma cidade cenográfica tão fiel à realidade?
José Luiz Villamarim: Para garantir a viabilidade da produção, pegamos a Avenida São João e trouxemos para o Projac, com a ajuda de recursos gráficos, que representam um gigantesco trabalho digital. Alguns pontos e cenários específicos foram reproduzidos pela cenografia. Temos uma Galeria do Rock nossa, pois não é possível estar no ambiente real toda vez que esse universo aparece na história. A novela, embora já esteja sendo gravada aqui no Rio, não saiu de São Paulo. Esta é a sensação que queremos despertar no público. Também construímos no Projac o Titã e parte da rua Líbero Badaró.

Como você define o trabalho de direção em Tempos Modernos?
José Luiz Villamarim: A novela é uma comédia, com histórias contadas de forma leve. Um dos pontos de partida é que o centro já foi redescoberto em diversas cidades importantes mundo afora, pois é uma forma de resgatar as histórias e as memórias de suas populações. Temos vários núcleos em ‘Tempos Modernos’ e isso nos permite recorrer a um caldeirão de referências. Para quem dirige um trabalho com essas características é maravilhoso. Não estamos reinventando nada. Temos uma boa história e os personagens existem, eles estão nesta região de São Paulo, testemunhados pelo próprio Bosco que viveu ali durante anos. ‘Tempos Modernos’ é ágil e esse ritmo está relacionado ao fato de que as pessoas são sanguíneas, cheias de vida, um dos traços de criação do autor.

Quais sãos os destaques da trilha sonora e onde você buscou as referências para definir os temas dos personagens?
José Luiz Villamarim: A novela é extremamente musical e isso nos leva a uma variação enorme de estilos. As canções são escolhidas de acordo com seus personagens, como no caso de Leal (Antônio Fagundes). Ele é um homem simples, tradicional e o seu gosto tende para o samba de raiz. Já núcleo de rock, representando pela Galeria, também estará presente na trilha, com a música “Até quando esperar”, cantada por Plebe Rude. O tema de Nelinha (Fernanda Vasconcellos) e Zeca (Thiago Rodrigues) é “O Segundo Sol”, na voz de Cássia Eller. Essa foi uma escolha bem interessante, já que a música fala de astronomia e isso tem tudo a ver com a trama. Arnaldo Antunes, que, além de ser a cara de São Paulo, esteve em nosso workshop que reuniu todo o elenco antes do começo das gravações, é outro nome que está na novela. A escolha foi “Invejoso”, que tem uma levada engraçada e leve e ajuda a contar a história do divertido Bodanski, personagem de Otávio Müller. O bolero é mais uma de nossas opções. O ritmo embala o romance de Hélia (Eliane Giardini) e Leal.

Perfil dos Personagens

Família Cordeiro

Leal Cordeiro (Antônio Fagundes) – Trabalhador, inteligente e cabeça dura. Essas três características falam muito sobre o protagonista da trama. Sozinho, construiu tudo o que tem, como o moderníssimo edifício chamado Titã. Quando quer, sabe ser um fiel amigo e ter fala mansa. Mas não deixa a teimosia de lado caso seja contrariado, principalmente em situações de injustiça, claro, segundos seus próprios conceitos. Tem três filhas, que representam o que há de mais valioso em sua vida e, justamente por isso, não mede esforços para agradá-las. Atualmente Leal tem se sentido sobrecarregado e, após tantos anos de vida dura e muito trabalho, começa a pensar em dar um novo rumo para seu destino.

Cornélia Cordeiro (Fernanda Vasconcellos) – Ela pode ser chamada de Nelinha, a filha mais nova – e preferida – de Leal. Por ser tão parecida com o pai, principalmente no jeito teimoso de ser, pensar e agir, a relação entre os dois tem altos e baixos. As brigas, que não são poucas, camuflam um amor imenso e uma forte admiração que tem por Leal. Nelinha é simples e esta talvez seja sua maior virtude para conquistar amigos e amores. É firme na hora de defender seu ponto de vista e tem um enorme coração, coisa que pode ser comprovada por meio de suas atitudes.

Regeane Cordeiro (Vivianne Pasmanter) – Formou-se em Engenharia, mas não tem nada de racional. Recorre a fórmulas mirabolantes para explicar os cálculos que faz. Consumista ao extremo, chega a ter palpitações em frente a uma vitrine. Foi casada com Portinho, por quem ainda é apaixonada. Decidiu se separar de seu grande amor ao descobrir que ele não poderia lhe dar o filho que tanto sonhou. Regeane é muitíssimo parecida com a irmã Goretti, embora negue isso aos quatro ventos. A semelhança aparece principalmente no gosto (duvidoso) para escolher o figurino.

Vinícius Porto (Felipe Camargo) – Conhecido por todos como Portinho, ele atualmente não faz parte da família Cordeiro. Muito a contragosto, se separou da mulher de sua vida, Regeane. Um dos astrônomos mais atrapalhados do universo, Portinho faz a linha de homem desastrado, azarado e acomodado. Profissional brilhante, não sabe lidar com a realidade. É o melhor amigo de Nelinha, que pode contar com sua companhia e fidelidade. Apenas uma coisa, ou melhor, uma pessoa é capaz de transformá-lo: Regeane, por quem faria qualquer coisa.

Goretti Cordeiro (Regiane Alves) – Ela prefere ser chamada de Go Cordeiro, principalmente na hora de assinar seus trabalhos como artista plástica, coisa que está longe de ser. Bonita por natureza e cafona por vocação, Goretti morre de vergonha da origem pobre de seu pai. A vontade de dar um neto a Leal fez com que tivesse quatro filhas, as “Marias”, que roubam toda a sua tranquilidade. Ela está longe de ganhar o prêmio de mãe do ano, pois mal conhece suas meninas. O casamento com Bodanski faz de sua vida um circo para qualquer plateia aplaudir.

Dr. Bodanski (Otávio Müller) – Construiu carreira como autor e palestrante de auto-ajuda – em qualquer área que seja. Com a fama, fundou o SPA Pilhanatural, onde são aplicadas técnicas inusitadas que visam o bem-estar do corpo e da alma. Este é o charlatão Altemir, seu verdadeiro nome, um grande segredo. Marido de Goretti, ele também não dá conta das “Marias”, sua filhas temperamentais. Linguarudo e sem o menor compromisso com a ética, o “doutor” é um aliado nas armações de Albano.

Maria Eunice (Polliana Aleixo) – A filha mais velha de Goretti e Bodanski. Tem 15 anos, mas se parece com uma criança grande. É desajeitada e prefere brincar com os mais novos. Maria Eunice adora – e faz isso muito bem – imitar vozes de personagens de desenhos animados e de super-heróis.

Maria Helena (Rebecca Orenstein) – A segunda filha do casal é também a mais vaidosa. E sabe se comportar como uma mulher madura, com ares e trejeitos de uma adulta, embora tenha apenas 14 anos. É uma crítica ferrenha de moda e sua principal vítima é a mãe, Goretti, que não tem o menor talento para se vestir.

Maria Clara (Jeniffer de Oliveira Andrade) – Esta é a Maria mais forte entre as quatro, embora tenha sido a terceira a nascer. Ela até que tem o tamanho normal para a idade, 13 anos, mas surpreende a todos quando carrega móveis de sua casa. Maria Clara não tem medo de quase nada, incluindo outras crianças maiores do que ela. Se pensar em confusão, conte com ela!

Maria Eugênia (Ana Karolina Lannes) – É a mais novinha da prole, com 12 anos. Encantadora e falante, chama a atenção por ser muito inteligente, mais do que a idade permite. E aparenta saber mais da vida do que de fato sabe. Maria Eugênia é a filha que mais sente falta da presença da mãe.

Tertuliana (Débora Duarte) - Esta pernambucana não tem travas na língua. Experiente e generosa, Tertuliana vive há anos na casa de Leal, a quem é extremamente fiel. É a referência materna de Nelinha, pois foi quem cuidou da criação da menina desde a morte de sua mãe. Tem um enorme carinho pelas destrambelhadas Goretti e Regeane.

Hélia, Zeca e companhia

Hélia Pimenta (Eliane Giardini) – Ex-bailarina, formada em Cuba, abandonou a dança profissional por razões até hoje não esclarecidas. Para amenizar a falta que sente dos palcos, fundou uma academia no centro de São Paulo, onde seus alunos encontram diversos ritmos de dança. Hélia mora no Titã, aliás, foi a primeira pessoa que se mudou para o prédio e é a única proprietária de um imóvel no edifício. Ela tem um filho, Zeca, para quem se recusa a dizer o nome e o paradeiro de seu pai. Além deste segredo, Hélia esconde vários outros, incluindo a razão de ter uma relação tão conflituosa com Leal.

José Carlos Pimenta (Thiago Rodrigues) – Zeca é formado em Engenharia e, depois de ter feito parte do corpo de fuzileiros navais, volta ao Titã para viver com sua mãe, Hélia. É caseiro, tem talento para dança e sabe costurar, além de ser sincero, elegante e firme na hora de tomar decisões. É o sonho de consumo de muitas mulheres. Logo que chega a São Paulo, consegue um emprego no Titã, como engenheiro. Mas o destino o coloca frente a um desafio, salvar Nelinha em um acidente. A partir disso, Zeca assume o posto de segurança do edifício, ou melhor, guarda-costas da filha de Leal.

Nara Nolasco (Priscila Fantin) – É uma amiga de infância de Zeca e, por consequência, sua namoradinha de adolescência. O relacionamento, se é que pode ser chamado assim, nunca ficou estabelecido ou formalizado, embora Nara tenha a certeza de que Zeca é o seu verdadeiro amor. Aprendeu a dançar com Hélia e hoje é uma excelente dançarina, dessas que participam – com um bom desempenho – de concursos em diversos países. É par constante de Zeca e os dois sonham em vencer uma disputa juntos. Nara é vaidosa e feminina, mas não mede esforços para defender o que deseja.

Tio Fidélio (Ricardo Blat) – Hoje é zelador noturno do Teatro Municipal, mas no passado destacava-se como pintor de telões de ópera, teatro e balé. Culto, educado e elegante, Fidélio é um homem discreto. Talvez por esta razão seja um dos melhores amigos de Hélia, de quem é um fã incondicional. Os dois dividem segredos, principalmente no que se refere ao passado da ex-bailarina.

Vilões no Titã

Albano (Guilherme Weber) – O todo poderoso chefe da segurança do Titã. Conhece o prédio de Leal como ninguém e aproveita o seu cargo para bisbilhotar a vida de todos que circulam ou moram no edifício. Não confia em ninguém, nem em si mesmo. É cínico e tem um passado nebuloso. Faz grandes armações e, ao mesmo tempo, se diverte infernizando gratuitamente a vida das pessoas. Albano parece um vilão de histórias em quadrinhos, mas pode ser letal quando quer conquistar seus objetivos.

Deodora Madureira (Grazi Massafera) – Braço direito, cúmplice e amante de Albano, comanda com mão de ferro o “exército” de seguranças do Titã. Esperta e desafiadora, domina as artes marciais e isso a torna muito confiante em si mesma. Protagoniza cenas amorosas com Albano que arrancam mais risos do que faíscas.

Zapata (Antonio Fragoso) – É dono de duas lojas na Galeria e convive com o pessoal do “rock”. Mas se aproveita disso para colocar em prática algumas das armações de Albano, já que atua como seu agente secreto – e capacho, nas horas vagas. Diz aos quatro cantos que é muito amigo de pessoas influentes, mas nunca revela nenhum nome. Zapata tem o dom de aparecer misteriosa e inesperadamente em lugares onde ninguém imagina.

Amigos de Leal

Zuppo (Pascoal da Conceição) – Vive se fazendo de bobo, mas no fundo está ligado em tudo. Tem uma pulga atrás da orelha em relação a Albano e, sempre que pode, fica de olho no vilão. Usa o tom de brincadeira para tratar de assuntos sérios. É especialista em construção nas alturas e ensinou Nelinha a ter gosto pelas nuvens.

Faustaço Lumbriga (Otávio Augusto) – O viúvo é o amigo mais velho de Leal, mas esconde a idade, por ainda se considerar um grande conquistador. Tem uma queda por mulheres casadas. É grande cozinheiro, embora faça o maior espalhafato para fritar um ovo. Tem um enorme coração e sua fidelidade a Leal vale até o seu último fio de cabelo. É grato ao amigo por ter ajudado na educação de sua filha, Duba.

Duba Lumbriga (Alexandra Martins) – Ela tem pavor de seu verdadeiro nome, Dulcinólia. Super vaidosa e nada estudiosa, Duba sempre deu dor de cabeça ao pai. É afilhada de Leal, mas o seu sonho era ser sangue do seu sangue. Morre de inveja da boa vida levada por Goretti e Regeane.

Pasquale (Genezio de Barros) – Como tantos migrantes em São Paulo, Pasquale venceu na vida com árduo trabalho. É um sergipano que cisma em falar italiano e em seu discurso vive usando expressões do idioma com sotaque nordestino. É dono da pizzaria Pasquale & Pasquale Pizza. Não tira férias e nem arreda o pé dos negócios, pois segue à risca a história de que é o olho do dono que engorda o gado. Não tem família, por isso transfere para o jovem Túlio, funcionário da pizzaria, o amor que dedicaria a um filho.

Na Galeria

Ramón Piñon (Leonardo Medeiros) – Dono da lendária “Ao Tiozinho do Rock”, Ramón é o aguerrido presidente da associação dos lojistas da Galeria. Roqueiro velho de guerra, sem nunca abandonar o jeitão desleixado e rebelde, Ramón é, no fundo, um homem conservador. Tenta educar sua filha colocando-a numa redoma de vidro e sofre até hoje por ter sido abandonando pela mulher, a cantora internacional Ditta.

Jannis Piñon (Aline Peixoto) – Filha de Ramón e Ditta. Ganhou seu nome em homenagem à famosa cantora, de quem seu pai sempre foi fã. Jannis tomou as dores do pai depois da separação de sua mãe. Por isso, faz todas as vontades do pai, incluindo esconder sua grande paixão por Túlio, já que Ramón é um pai para lá de ciumento.

Led Piñon (Guilherme Leicam) – Led Zepellin foi a grande inspiração para a escolha do nome do jovem. O filho mais jovem de Ramón e Ditta é quem mais sente falta da mãe. Esconde um grande segredo, principalmente de seu pai: estuda violoncelo e, de acordo com seu professor, vai longe. No fundo, sofre por não poder mostrar ao mundo que seu compositor favorito é Schubert. Led é exímio praticante de parkour.

Ditta (Alessandra Maestrini) – Cantora de fama internacional. Seu estilo predileto é a ópera. Respeitada no mundo artístico, Ditta precisou largar sua família em São Paulo para se dedicar à carreira. Mas esse conflito nunca ficou resolvido dentro de seu coração. De volta ao Brasil para um show no Teatro Municipal, Ditta vai balançar entre o amor de seus filhos e os palcos.

Gaulês (Jairo Mattos) – Dono de um sebo de histórias em quadrinhos na Galeria, Gaulês é tão amigo de Ramón e seus filhos que é considerado membro da família. Dono de um gibi muito raro e valioso, faz tudo para não colocá-lo à venda. Não se sabe muito sobre a vida de Gaulês. Entre seus segredos está o sonambulismo e, para evitar que saia à rua no meio da noite, criou vários aparatos para ficar bem quietinho durante o sono.

Justine (Tuna Twek) – Assistente de Ditta que chega ao Brasil com a cantora. Vai tentar convencê-la a não abandonar a carreira pelos filhos. Poliglota e viajada, Justine é o braço direito da cantora.

Família Paranhos

Iolanda Paranhos (Malu Galli) – Ex-enfermeira e formada em Psicologia, vai se transformar numa supergovernanta e aparecerá na vida de Goretti para ajudar na difícil tarefa de educar suas quatro filhas. Ficou viúva jovem e desde sempre precisou lutar para vencer na vida, deixando seu coração um tanto endurecido para o amor. Acaba de se mudar para São Paulo e tem esperanças de conseguir reconstruir sua história.

João Paranhos (Darlan Cunha) – O filho de Iolanda é um bom menino e gosta de estudar. Porém, como é típico da adolescência, traz consigo diversos conflitos acentuados com a morte do pai e com a vida agitada da mãe. Embora Iolanda tenha todas as teorias para dar uma boa educação a qualquer jovem, Joca, como seu filho é carinhosamente chamado, tem dado dor de cabeça a sua família.

Miranda Paranhos (Eliana Pitman) – Sogra de Iolanda, ela não teve uma vida fácil, mas não reclama de nada. Sobrevive com o pouco que ganha de sua aposentadoria de arquivista. Tenta aproveitar ao máximo os bons momentos fazendo uma das coisas que mais ama – e que faz muito bem: tocar trombone. Musicista de mão cheia, Miranda vai integrar uma pequena orquestra formada na academia de Hélia.

Ginecologia e Obstetrícia

Lavínnia Palumbo (Cláudia Missura) – Ginecologista vinda de família rica, é solteira e não tem filhos. Trabalhadora e incansável, faz o estilo “poderosa sem tempo para o amor”. Mas os resultados de seus esforços quase nunca correspondem às suas expectativas. Gastou todo o dinheiro que tinha na compra de equipamentos de última geração para dar vazão a um projeto para lá de inusitado: uma maternidade portátil.

Lindomar Mariano Assunção (Edmilson Barros) – À primeira vista, ele até consegue enganar os outros, pois finge ser gay para se aproveitar de situações e ficar sempre perto daquilo que ele mais adora e conhece: mulher. Mas Lindomar é um machão típico, que não pode ver um rabo de saia. É enfermeiro e concluiu seus estudos com o salário que recebia em um salão de cabeleireiro, onde aprendeu as manhas femininas. É funcionário e amigo de Lavínnia, que também não faz ideia da sua obsessão pelo sexo feminino.

Valvênio Marins (Alexandre Cioletti) – Ex-campeão de xadrez e competente técnico em informática. O seu único foco está em seu trabalho e, por isso, parece estar de mal com o espelho – o que pode esconder um homem bastante interessante. Já se conformou com o fato de que sua aparência e timidez o afastam do público feminino. Mesmo com todas essas “adversidades”, ainda é capaz de se apaixonar.

Na vizinhança

Túlio Osório (João Baldasseirini) – Motoboy, entregador de pizza da Pasquale, é um dos heróis da história. Inteligente, boa praça e bom caráter, tira os amigos de encrenca com a mesma facilidade com que entra nelas. Túlio tem uma habilidade incrível pilotando sua moto. Além disso, adora escrever histórias e versos, embora tenha vergonha de mostrar para outras pessoas. É apaixonado por Jannis, filha de Ramón.

Tartana (Cassio Inácio) – É o melhor amigo de Túlio. Por ser muito “esquentado”, se mete constantemente em encrencas. Aprendeu a lutar boxe no exército, o que de nada adiantou. Tartana perdeu e continua perdendo todas as lutas as quais insiste entrar.

Catarina Alves (Carol Abras) – Namorada de Tartana, o que comprova o seu gosto e a sua atração por homens com farda. Mesmo comprometida, Catarina, também conhecida como Katrina, uma referência ao furacão, não pode ver um bonitão pela frente.

Dolores Damasceno (Naruna Costa) – É massagista do SPA Pilhanatural. Mas do que Dodô gosta mesmo é de estatísticas, já que é fera em matemática. É amiga e aliada de Jannis e não consegue engolir Goretti, mulher de Bodanski, seu patrão.

Raulzão (Paulo Leal de Melo) – Se chamar de “Ducha Fria” ele também atende. É o pessimista de plantão. Se é para dar uma má noticia, pode contar com ele. Raulzão é um dos seguranças do Titã. Homem de bom coração, esconde uma paixão por Deodora.

Nabuco Motta (Fabrício Boliveira) – Amigo de infância e colega de farda de Zeca. Foi adotado aos oito anos de idade por uma senhora mineira, a quem chama carinhosamente de Tia Zila. Nabuco herdou a loja de reparos de roupa, localizada na Galeria, assim que sua tia decidiu voltar para Minas Gerais. Descobriu-se então um exímio costureiro. Agora ele tem um sonho: a criação de sua própria marca de roupas.

Tita Bicalho (Cris Vianna) – A delegada não deixou que a rotina na polícia a fizesse esquecer da vaidade. Na sua bolsa duas coisas não podem faltar: o batom e sua pistola com cabo perolado. Gosta de ir direto aos assuntos e é incansável nas horas das investigações. Tita é mestre em krav magá, técnica de defesa pessoal.

Surpresas na trama

Otto Niemann (Marcos Caruso) – Um verdadeiro gênio da arquitetura moderna e da tecnologia. É um ex-garoto prodígio e atualmente fala várias línguas, tem talento para desenhar, toca piano e outros instrumentos com desenvoltura e destaca-se como jogador de cartas e bilhar. Viveu um triângulo amoroso com Leal e Hélia no passado. Resolveu se isolar do mundo e ninguém – ou quase ninguém – sabe de seu paradeiro.

Renato Vieira de Mattos (Danton Melo) – É o segundo astronauta brasileiro em missão na Nasa. Charmoso e encantador, Renato dedica-se à pesquisa em sua área de atuação. Está de volta ao Brasil, mas ninguém sabe se veio apenas de passagem. Quem precisará ficar de olho na chegada deste astrônomo é Zeca, pois o coração de Nelinha deve balançar com essa novidade vinda dos céus.

Outros personagens

Titã

Rondônia Alves (Prazeres Alves) – Cozinheira na casa de Goretti, mas não leva jeito para a culinária. Só se mantém no trabalho porque aprendeu a lidar com as “Marias’.

Thais Trancoso (Isabel Lobo) – Trabalha como recepcionista no consultório de Lavínnia. É apaixonada por Lindomar e, mesmo dizendo que respeita sua opção sexual, não desiste de tentar conquistá-lo.

Val Lopes (Georgia Goldfarb) – É uma das seguranças do local e chefia a sala de controle. É sempre séria e extremamente fria, até mesmo quando está cara a cara com Albano.

Nelsinho Pallotti (Xandy Britto) – Faz parte da equipe de seguranças do Titã. Embora não seja do tipo atlético, é surpreendentemente ágil e eficiente.

Izadora Mellão (Luciana Barbosa) – Chefe das recepcionistas do prédio de Leal. É quem tira as fotografias dos visitantes para os crachás. Secretamente, guarda as fotos que mais lhe agradam.

Tito Maranhão (Zé Luiz Perez) – Chefe do departamento pessoal, incluindo boys, contínuos, garçons e equipe da limpeza. Ex-boy, agora um carrasco.

Divino (Sandro Ximenez) – Ele é o chefe da equipe técnica, ou seja, encanadores, eletricistas e pintores. É também o quebra-galho do SPA Pilhanatural.

Galeria

Malu Leitão (Sofia Porto) – Trabalha na loja de Zapata. É um tipo bem engraçado. Seu passatempo é devorar pizzas.

Bárbara Lee (Luciana Borghi) – É a tatuadora da Galeria. Sempre séria, é firme na hora de falar e tem olhos faiscantes. Para ela, tatuagem não é moda, mas filosofia de vida.

Milena Morgado (Janaína Ávila) – É mais uma das proprietárias de loja da Galeria. Faz parte do grupo dos góticos, sem deixar de lado a elegância e a sofisticação.


SPA Pilhanatural

Ricardo Maurício (Victor Pecoraro) – É o massagista que chama a atenção das mulheres que passam pelo SPA. Apesar do assédio das clientes, seu interesse está na secretária Heloísa.

Heloisa Lucia (Joana Lerner) – É secretária do SPA. Apaixonada por Ricardo, quando o vê esconde seus óculos “fundo de garrafa”. De sedutora passa a desastrada.

Escola de Dança

Maureen Lobianco (Paula Possani) – Professora de dança contemporânea e um tanto amalucada. Vive explorando novas posições em sala de aula.

Filomena Ayres Penna (Marcia Del Anillo) – Conhecida por Filó Pendenga. É uma boa dançarina e acha que seus pares nunca estão a sua altura.

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