quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Roda Viva exibe, hoje, edição especial com Zilda Arns

A médica e sanitarista Zilda Arns, conhecida mundialmente por seu trabalho social ligado a Pastoral da Criança, esteve no centro do Roda Viva em 2001, onde falou, sobretudo, da necessidade de se cuidar dos mais humildes, da importância da prevenção, em se tratando de saúde, e da educação como fatores preponderantes para a qualidade de vida das pessoas. A entrevista vai ao ar hoje (13/1), às 22h, na TV Cultura.

Um dos momentos mais interessantes do programa acontece quando Zilda é questionada sobre o fato de a Pastoral ter um único financiador: o governo. Diante da indagação de que os governos têm memória muito curta e quando trocam os comandantes existe a possibilidade de o sucessor não dar continuidade aos bons projetos, Zilda interrompe: “Mas se vier um que quer acabar com isso aqui [a Pastoral], cai [o governo]. Não tem outra saída... [O governo] Não pode ser tão burro de acabar com a Pastoral da Criança”.

Zilda também comenta a necessidade de engajamento, tanto do governo quanto da sociedade, para melhorar as condições de vida da população; fala sobre a receita de sucesso da Pastoral, que, segundo ela, se deve aos líderes das próprias comunidades atendidas; aborda o processo de modernização e descentralização das iniciativas governamentais; e aponta os problemas do SUS - Sistema Único de Saúde. Para ela, a dificuldade do Sistema está sempre no acesso e não no atendimento.

A médica indica que a solução está na educação para a prevenção da família: “A família deveria saber prevenir as doenças. Sobrariam menos doentes para os postos de saúde. E se lá estivesse bem organizado - medicamentos, vacinas e tudo o mais -, poderia prevenir, também, para não ir para um hospital”.

Na época, Zilda Arns apontou o estado de Alagoas como o maior desafio da Pastoral e creditou o problema da saúde nessa região à falta de escolaridade. Também mencionou as favelas de São Paulo, Rio de Janeiro e Recife como pontos de grande dificuldade: “lá encontrei casas de lata, de plástico, crianças pequenas com pneumonia, febre alta, mau cheiro, e não tinha nem banheiro, nem nada, jogavam as fezes humanas na rua. Mas se fosse para escolher [entre] morar aqui ou lá, eu preferia lá, porque, realmente, é muito desumano”.

Questionada sobre o fato de os índices de combate a mortalidade infantil serem maiores na Pastoral do que no governo, Zilda é enfática: “a Pastoral não faz o trabalho sozinha, é uma rede que cuida da criança e faz tudo para que a família consiga cuidar dela o máximo, para que não precise de médico. Eu diria que a Pastoral tem aquele calor humano, e aquele braço é o oxigênio que muitas vezes falta às famílias para ir e procurar os recursos”.

Assuntos como os métodos contraceptivos – caso da pílula anticoncepcional e da camisinha –, os quais a pastoral é contra; racismo; possibilidade de Prêmio Nobel –ao qual foi indicada três vezes; e o trabalho do cardeal Dom Paulo Evaristo Arns, seu irmão e arcebispo emérito de São Paulo, também entraram na pauta da entrevista.

Essa edição do programa foi gravada e exibida pela primeira vez em outubro de 2001. Zilda Arns morreu nesta terça-feira (12/1), em um terremoto de 7 graus na escala Richter que atingiu o Haiti, quando a médica cumpria missão humanitária na região. Além de Arns, morreram pelo menos quatro militares brasileiros que servem na força de paz da ONU no país caribenho.

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