Povo de Sucupira: ‘O Bem Amado’ com o antológico Odorico Paraguaçu volta à cena em DVD
Parece que foi ontem, mas
há quase 40 anos a fictícia cidade de Sucupira, no litoral da Bahia, chegava às
manchetes nacionais. As artimanhas do corrupto prefeito Odorico Paraguaçu,
imortalizado pela interpretação majestosa do ator Paulo Gracindo, ganhavam
notoriedade em o ‘O Bem Amado’. Outros nomes consagrados como Lima Duarte, na
pele do pistoleiro Zeca Diabo, e o diretor Daniel Filho, que respondia pela
supervisão do folhetim, também fizeram parte desse marco da teledramaturgia
nacional. O ‘Bem Amado’ ganha sua versão em DVD pela Globo Marcas em caixa de
dez discos e mais de 36 horas de duração.
A obra de Dias Gomes se
tornou inesquecível não apenas por ter sido a primeira novela a ser
comercializada para o exterior, mas também por ser a primeira a cores da
televisão brasileira. Em depoimento exclusivo gravado para o DVD, Daniel Filho
comenta o grande desafio que a TV a cores trouxe para a equipe técnica, ainda
não adaptada aos novos equipamentos, o que resultou em uma explosão de luz e
cores na TV. Segundo ele, objetos ou pessoas muito claras “rasgavam a imagem”.
Uma das cenas mais engraçadas que presenciou, logo nos primeiros dias de
gravação, foi quando Ida Gomes contracenava com Paulo Gracindo. “Desce da
escada que a perna da Ida Gomes está rasgando!”, relembra o diretor, em
referência ao efeito que a brancura das pernas da atriz causava em contraste com
a pele morena de Paulo na tela.
A história marcou o início
da década de 70 com uma sátira política ao coronelismo da época e à ditadura
militar. Prova disso é que ‘O Bem Amado’ estreou em janeiro de 1973 e cinco
meses depois, a censura proibiu a utilização na novela das palavras ‘coronel’,
‘capitão’, ‘ódio’ e ‘vingança’, fazendo com que a produção apagasse o áudio de
vários capítulos já gravados. E para quem pensa que todos os absurdos que
aconteciam em Sucupira eram apenas ficção, ‘O Bem Amado’ teve, sim, sua base na
peça teatral do próprio Dias Gomes, “Odorico, o Bem Amado, e os Mistérios do
Amor e da Morte” de 1962. Mas para escrever o ponto central da trama, o autor
se baseou em um fato ocorrido no estado do Espírito Santo, onde um candidato a prefeito
se elegeu com a promessa de construir um cemitério.
O escândalo “Watergate”
ocorrido nos Estados Unidos na mesma época da novela também foi fonte de
inspiração para o “Sucupiragate” de Dias Gomes. Histórias picantes e
tragicômicas dos moradores eram reveladas por meio de um microfone instalado no
confessionário da igreja a mando do prefeito, que enfraquecido politicamente,
buscava segredos de seus adversários.
O enredo divertido e
brasileiríssimo de ‘O Bem Amado’ gira em torno do grande problema do prefeito
eleito: cumprir sua promessa de campanha e inaugurar o primeiro cemitério da
cidade. Mas ninguém morria de doença em Sucupira graças aos cuidados de um
médico recém-chegado, Juarez Leão (Jardel Filho). Ansioso para abrir as portas
do seu feito monumental e não perder o apoio popular, ele lança mão de todo
tipo de artifício e contrata os serviços do temido matador Zeca Diabo (Lima
Duarte). A partir daí, muitos acontecimentos rondam a cidade até o cemitério
ser inaugurado, finalmente, com a morte do próprio Odorico Paraguaçu.
A trama traz ainda
personagens fascinantes como o desastrado e tímido assistente do prefeito
Dirceu Borboleta (Emiliano Queiroz), as três donzelas beatas intituladas como
Irmãs Cajazeira (Dorinha Durval, Dirce Migliaccio e Ida Gomes) e o pescador
Zelão das Asas (Milton Gonçalves), que cria asas e voa no final da história.
Momentos cômicos como as
cenas entre Odorico e as Irmãs Cajazeira, embaladas por muito licor de
jenipapo, são lembradas até hoje. Elas, apaixonadas pelo prefeito, trocavam
intimidades amorosas pela falsa promessa de casamento que o prefeito fazia a
cada uma. Entre as atuações impecáveis da novela, o jeito nervoso de mexer com
as mãos e os joelhos de Dirceu Borboleta, que ainda ficava muito vermelho toda
vez que gaguejava.
Já a linguagem rebuscada
de Odorico Paraguaçu e seus bordões inusitados, com muitas palavras inventadas
pelo próprio Paulo Gracindo, entraram para o folclore nacional. “Donzelas
praticantes”, “cachacistas juramentados”, “deverasmente”, “pra frentemente” e
“botando de lado os entretantos e partindo pros finalmentes” são alguns dos
pomposos “invencionismos” que ganhavam o país na voz do ator.
Outros personagens
marcantes como Telma Paraguaçu, filha de Odorico, vivida por Sandra Bréa; a
corajosa delegada Donana Medrado, inimiga do prefeito, interpretada por Zilka
Sallaberry; o jornalista Neco Pedreira (Carlos Eduardo Dolabella), o dentista
Lulu Gouveia (Lutero Luiz) e o farmacêutico Libório (Arnaldo Weiss) também
contribuíram para o grande sucesso de ‘O Bem Amado’.
Essa é a sétima novela
lançada em DVD pela Globo Marcas. As anteriores são ‘Roque Santeiro’, ‘Irmãos
Coragem’, ‘Dancing Days’, ‘O Astro’, ‘Escrava Isaura’ e ‘Tieta’. ‘O Bem Amado’
está à venda no Portal Globo Marcas (www.globomarcas.com),
pelos telefones (21) 2125-7025 (todo o Brasil), (11) 2196-7025 (São Paulo) e em
lojas especializadas. Preço sugerido: R$ 164,90.
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