Fernanda Montenegro protagoniza o especial Doce de Mãe
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Foto: TV Globo/Divulgação |
Sua rotina é movida por duas grandes paixões: o samba e a culinária. Picucha não teme a morte. Para explicar esse sentimento a Zaida (Mirna Spritzer), cita Fernando Pessoa: “A morte é uma curva da estrada, morrer é só não ser visto”. Sua maior terapia é a cozinha e, quando alguma curva parece se desenhar no horizonte, só há uma saída para Picucha: panquecas!
É na cozinha que suas mãos fazem mágica e preparam pratos deliciosos. Tem ambrosia, cuca de banana, picadinho Maria Luiza, picadinho ao vinho, bolo malhado, figo recheado com nozes, “cuecas viradas”, mas nada é tão especial quanto as panquecas flambadas. Ah! Essas panquecas flambadas que causam discórdia na família. Disputadas garfo a garfo, são sempre o destaque do Natal.
Em um dia comum, os quatro filhos recebem um misterioso telefonema da mãe. Eles são convocados para um jantar especial em que Picucha servirá suas famosas panquecas flambadas. Silvio (Marco Ricca), Elaine (Louise Cardoso), Suzana (Mariana Lima), Fernando (Matheus Nachtergaele), a neta Carolina (Elisa Volpatto) e a nora Florinha (Áurea Baptista) seguem para a casa de Picucha. Em clima de festa, com brindes de champanhe, Picucha anuncia o casamento de Zaida e sua imediata mudança para outra cidade. O que era para ser um momento alegre deixa todos em estado de choque.
A partir daí, se desenrola a trama de ‘Doce de Mãe’, uma comédia humanista escrita por Ana Luiza Azevedo, Jorge Furtado e Miguel da Costa Franco especialmente para Fernanda Montenegro. "Picucha tem uma ótima compreensão da vida. Ela é uma mãe diferente para cada um dos seus filhos e os aceita com sabedoria. Ela tem uma identificação com a vida", define a atriz. O especial, parte da programação de fim de ano da Rede Globo, será exibido no dia 27 de dezembro, após ‘Salve Jorge’.
E agora, quem vai cuidar da mamãe?
Crise. Para os filhos, a mudança de Zaida é um grande problema. Já Picucha encara como uma nova oportunidade. Um momento de liberdade, de finalmente viver sozinha e poder cuidar da sua vida como bem entender. E assim o faz. O dia a dia traz uma infinidade de pequenos afazeres que desafiam sua atenção. Quando não esquece a porta aberta, deixa a chave na fechadura. Sai para fazer compras, e a ambrosia fica no fogo. Seus filhos se preocupam com esses deslizes e tomam uma decisão: Picucha precisará de uma nova empregada.
Após inúmeras tentativas frustradas, Suzana apresenta Lenir (Barbara Borgga). Picucha sente uma empatia imediata pela baiana, que parece ser a empregada perfeita. Ela lhe faz companhia, ouve atentamente as lições de culinária, e as duas dividem uma mesma paixão: o samba. Lenir até ensina alguns passos para a patroa, que, embora gostasse da música, nunca havia se arriscado a dançar. Os filhos ficam contentes com a solução do problema. Até o dia em que Picucha some. Todos saem apreensivos em busca da mãe, procuram até no Instituto Médico Legal, até que a encontram em uma roda de samba na casa da Lenir. Picucha sai da festa direto para o hospital. E o diagnóstico é um porre, daqueles!
Nova crise. Ainda no hospital,
eles decidem que a saída é um rodízio entre os filhos. No dia do Silvio, ela
assiste a futebol. Com a Suzana, descobre os sites de relacionamento. À neta
Carolina ensina alguns dos seus truques culinários. A faxina da casa fica com a
filha Elaine. E, com Fernando, ela se diverte: escutam música, cozinham juntos
e ele tenta inutilmente esconder sua opção sexual. São tantas atividades que
Picucha se sente cansada. Ficar perto dos filhos é bom, mas ela não tem mais
liberdade. Agora é hora de pensar nela.
A solução que Picucha
encontra é convidar Jesus (Daniel de Oliveira) para morar em sua casa. Ex-aluno
prodígio do seu falecido marido, o Fortunato, hoje Jesus é um morador de rua
que não tem a quem recorrer. Com a chegada do rapaz, ela espera também acabar
com uma de suas maiores preocupações: a solteirice de Suzana.
Finalmente, Picucha sente
que conseguiu aproximar a sua família. Com suas atitudes, ela mostra para os
filhos alguns importantes valores da vida. Seja na forma como encara os percalços
do dia a dia, seja abrindo sua casa para um mendigo. Para ela, a grande
sabedoria é aceitar as diferenças. E é na família que se convive com as grandes
diferenças.
Jesus vai ajudá-la,
também, a resolver outro problema: levar os ossos de Fortunato para perto dos
pais, desejo do marido antes de morrer. No caminho para a cidade natal de
Fortunato, Picucha relembra o dia em que Zaida foi embora. Tanta coisa
aconteceu de lá pra cá. Em uma carta para sua fiel escudeira, conta brevemente
os últimos acontecimentos, promete entregar seu caderno de receitas e ainda tem
tempo para um último conselho: “Tenha muitos filhos e sua vida será linda”.
O especial foi gravado em
Porto Alegre, em setembro deste ano. A decoração do apartamento de Picucha traz
um ambiente com muitos objetos, em cada canto um detalhe, uma lembrança, que
remete a casas de avós. “Essa decoração não representa uma época definida, mas
a história de uma vida”, define Fiapo Barth, diretor de arte. O figurino segue
a mesma linha. Picucha é uma senhora ativa, que se veste com blusas de laços e
um tênis para ter comodidade e segurança. “Tem muitas senhoras que agora estão
usando tênis e nós optamos por esse calçado para Picucha. A Fernanda gostou
tanto do modelo que ficou para ela”, conta a figurinista Rosangela Cortinhas.
Com autoria de Ana Luiza
Azevedo, Jorge Furtado e Miguel da Costa Franco, 'Doce de Mãe' é uma coprodução
da Rede Globo com a Casa de Cinema de Porto Alegre. O especial tem direção
de núcleo de Guel Arraes e direção geral de Ana Luiza Azevedo e Jorge
Furtado, e vai ao ar no dia 27 de dezembro, logo após ‘Salve Jorge’.
Entrevista com os autores e diretores Ana Luiza Azevedo e Jorge Furtado
Como surgiu a ideia de
abordar a terceira idade em um especial?
Ana – Já abordei esse tema em outro trabalho, no curta
“Dona Cristina Perdeu a Memória”. É um assunto com qual todos nós nos deparamos
e convivemos em algum momento da vida. Faz parte do nosso dia a dia. E é
natural que as questões que nos afetam nos chamem atenção.
Jorge – Toda história traz três referências: as próprias
vivências, histórias de outras pessoas e referências da literatura e do cinema,
que têm milhões de narrativas. Esse roteiro surgiu de uma ideia da Ana Luiza
Azevedo. O roteiro foi escrito a seis mãos: pela Ana, pelo Miguel da Costa
Franco e por mim, juntando ideias e referências de todos os lados. Durante a
filmagem, os atores e equipe agregaram tantas outras referências. No fim, temos
como resultado uma história escrita por nós, com colaboração da Fernanda (Montenegro),
do Matheus (Nachtergaele), da Mariana (Lima), da Louise (Cardoso),
do (Marco) Ricca, do Daniel (de Oliveira) e de tantos outros que
participaram desse processo. O mais interessante é a sensação que tive quando
acabamos de filmar. Esse especial é muito maior que a soma das partes.
Esse especial é
definido por vocês como uma comédia humanista. Podem explicar melhor este
conceito?
Ana – Essa história tem como base a vida real, e exalta os
valores humanos. Não estamos preocupados que em cada cena tenha uma piada. Há
cenas tristes e cenas engraçadas. ‘Doce de Mãe’ é uma história real, crível e
muito engraçada. Ao mesmo, traz uma reflexão sobre as relações familiares,
sobre a questão do idoso e de como as famílias se preparam para cuidar dos mais
velhos.
Jorge – Normalmente, as comédias são subestimadas. E, na
minha opinião, a melhor forma de representação da vida é a comédia que mistura
o humor com a tragédia, a alternância de momentos tristes e felizes. É o que
melhor representa a vida.
Como foi o convite para
a Fernanda Montenegro?
Jorge – Faz muito tempo que quero trabalhar com a Fernanda.
Já tinha escrito para ela algumas coisas no ‘Comédias da Vida Privada’, mas não
tínhamos trabalhado juntos diretamente. Quando surgiu a oportunidade, ligamos
para ela dizendo: eu e a Ana temos um personagem para você. Ela adorou. Logo
que leu a primeira versão do roteiro já achou sensacional. O nosso trabalho é
fazer o possível para não atrapalhar a Fernanda. Ela é uma força da natureza.
Tem mais vitalidade e energia do que eu.
E como se deu a escolha
dos outros atores?
Ana – O primeiro critério é que fossem ótimos atores.
Buscamos pessoas com quem já trabalhamos, como foi o caso do Ricca, que fez
‘Brava Gente’; Matheus, que trabalhou conosco em “Achietanos” e ‘Decamerão’;
Daniel e Mirna, que também já fizeram vários trabalhos conosco. E convidamos
atores que admiramos muito e com quem tínhamos muita vontade de trabalhar. Foi
o caso da Louise Cardoso e da Mariana Lima. Uma das funções mais importantes do
diretor é a escolha do elenco. Uma escalação equivocada pode acabar com o
trabalho.
Jorge – Concordo totalmente com a Ana, e aprendi isso com o
Guel Arraes. Ele me deu esse conselho valioso do qual nunca esqueci: a maior
direção do ator começa no dia em que você o convida. Depois disso, está
resolvido 90% do trabalho.
Esse especial traz uma
mistura de elenco com atores renomados e artistas pouco conhecidos do grande
público. Qual é a grande aposta deste trabalho?
Jorge – Nosso objetivo é sempre chamar o melhor ator possível
para o papel. E, como diz Paulo José, não existem papeis pequenos, e sim atores
pequenos. Têm algumas participações que são rápidas, uma cena só, por isso,
quanto melhor o ator, melhor o resultado. Por exemplo, tem uma cena no hospital
em que aparece uma personagem que só tem uma fala. Mas é uma fala ótima,
engraçada, que tem que ser feita em um ritmo rápido. Escolhemos a Janaína
Kremer, uma grande atriz. No Rio Grande do Sul, temos excelentes atores, que
decidiram fazer carreira aqui, como nós, que optamos por ficar em Porto Alegre.
Espero não esquecer ninguém, mas cito a Mirna Spritzer, Aurea Batista, Sergio
Lulkin, Elisa Volpatto e Evandro Soldatelli.
Ana – E tem, também, a Lenir, uma das várias empregadas
da Picucha ao longo da história. Em uma das cenas da Lenir ela ensina Picucha a
sambar. Discutimos muito sobre essa cena. Eu dizia: “a atriz tem que saber
sambar”, e o Jorge completava: “mais do que saber sambar, tem que ser boa
atriz”. E nós tivemos muita sorte em encontrar a Barbara Borgga, uma atriz
baiana que mora em Porto Alegre, que samba lindamente e é uma ótima atriz.
Qual é a grande
mensagem deste especial na opinião de vocês?
Ana – É uma história que se comunica com todas as famílias
brasileiras. Em algum momento da vida, alguém vai fazer parte de temas como os
que estamos tratando, seja como filho, como pai, amigo ou
vizinho. É um especial sobre a família, para a família, de como temos que e
aceitar as diferenças.
Jorge – O Santo Agostinho tem uma frase muito boa: “Ama e
faz o que quiseres”. Acho que a mensagem do especial é ‘Aceitar’. E valorizar a
sabedoria dos mais velhos, dos mais vividos e aprender com isso. Vale a pena
estar próximo, ouvir, levar os ensinamentos consigo.
Outros temas surgem
neste roteiro. O personagem do Daniel de Oliveira é um mendigo, que vai morar
com a Picucha. Este é um assunto que também entra em discussão no especial?
Ana – Tolerância é uma das questões bastante presente. Nas
relações familiares, convivência entre pais e filhos, entre irmãos, é um
exercício muito grande da tolerância. No caso da Picucha, conviver com os
filhos, e fazer com que eles, que são tão diferentes, convivam entre si, já é
uma boa mensagem para quem assistir.
Jorge – Fora que a gente nem precisa ressaltar, mas é algo
curioso, vendo o Daniel de olhos azuis e cabeludo. Em plena época de Natal,
Picucha o coloca para dentro da sua casa. E ele se chama Jesus. É uma mensagem
interessante. Pensar que Picucha está cheia de problemas, preocupações,
questões familiares, e resolve os problemas colocando um mendigo dentro de
casa. É a mensagem de fraternidade, caridade, tolerância, respeito às diferenças.
Isso é muito presente e importante.
Picucha e sua família
Picucha (Fernanda
Montenegro) – Uma senhora que não
tem receio de dizer que é velha nem de falar da morte. Até porque, a cada vez
que diz que está velha, se sente ainda mais jovem. Sabe que não tem muito tempo
de vida e, neste tempo que ainda lhe resta, tem urgência em resolver algumas
pendências.
Sílvio (Marco Ricca) – Como filho mais velho, administra a vida da mãe desde
que o pai faleceu. É o mais mimado de todos. Casado com Florinha (Áurea
Baptista), tem dois filhos. Adora futebol e escreve sobre o Campeonato
Brasileiro para um site de agentes previdenciários. É um executivo de uma
agência de seguros.
Elaine (Louise Cardoso)
– Dona de casa, casada e mãe de três
filhos. Tem mania de limpeza e quer manter tudo sob controle, da vida da mãe à
vida dos filhos. Mora no interior, tem uma casa grande e bastante confortável,
mas não considera a possibilidade de levar a mãe para morar com ela.
Fernando (Matheus
Nachtergaele) – Trabalha em um bar à
noite e divide a vida com Roberto (Evandro Soldatelli), seu namorado. É o filho
protegido de Picucha e com quem ela mais se identifica. Fernando gosta de
cozinhar como a mãe e acha graça de suas trapalhadas. Os irmãos o consideram
irresponsável.
Susana (Mariana Lima) – Dentista e solteira. Está louca para arranjar um
namorado e tenta encontrá-lo pela internet com a ajuda de Picucha. É a filha
mais moça, e Picucha se preocupa por ela ser muito contida, por ainda não ter
se descoberto, nem saber o quanto é bonita.
Jesus (Daniel de
Oliveira) – Um rapaz bonito, mas que
se perdeu pela vida. Após alguns tropeços, virou morador de rua. Mas nem sempre
foi assim: foi aluno brilhante de Fortunato, o marido falecido de Picucha.
Zaida (Mirna Spritzer) – Empregada doméstica de dona Picucha. Dedicou a vida
toda ao trabalho e a acompanhar a patroa. É mais do que uma empregada, é como
se fosse uma filha. Deixa a vida da Picucha organizada, mas vai embora preocupada
porque Picucha anda esquecida ultimamente.
Carolina (Elisa
Volpatto) – Filha de Elaine (Louise
Cardoso) e neta de Picucha. Tem ótima relação com a avó e considera Picucha
capaz de viver sozinha. Sempre que está na casa da avó, aprende algo novo na
cozinha.
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