terça-feira, 7 de abril de 2015

"Os Experientes" a nova série da Globo

Beatriz Segall e João Cortês Crédito: Globo/Caio Gallucci

De repente 60. Rugas. Careca. Pelos crescendo. Barba caindo. Manias. Perdas. Medo. Solidão. Saudade. Esquecimento. E ponto final. Final? “Normalmente, as pessoas acham que quando se chega numa certa idade o mais importante da vida já aconteceu”. Quem responde, dando o tom da conversa, é o sambista Zé Maria, narrador de um dos quatro episódios da série ‘Os Experientes’, coprodução da Globo com a O2 Filmes, que tem estreia marcada para o dia 10 de abril.

 
Com direção geral de Fernando Meirelles e Quico Meirelles, direção de gênero de Guel Arraes e direção de Fernando Meirelles, Quico Meirelles e Gisele Barroco, a série traz quatro histórias sobre envelhecer, mas também sobre se redescobrir, se reinventar e até começar a viver uma das melhores fases da vida. ‘Atravessadores do Samba’, ‘Folhas de Outono’ e ‘O Primeiro Dia’ têm autoria de Marcio Alemão Delgado, e ‘Assalto’ de Antônio Prata.
 
As tramas são independentes, mas se ligam por meio de um personagem que as “visita”. Em todas elas, o tema é a tão temida terceira idade e tudo o que essa nova fase revela. Afinal, na melhor das hipóteses, todos chegam aos 60 anos e, junto com a idade, passam por transformações. Quase todo mundo ganha de “presente” um pacote de artrite, artrose e outras “oses” e “ites”, além de uma característica infeliz: a invisibilidade. É comum não enxergar os “mais experientes” e tratá-los, quase sempre, de forma infantil.
 
"Nossa cultura é obcecada pela juventude, e os velhos tendem a ser colocados de lado como se não tivessem mais nada a dizer ou ensinar. Grande besteira. Talvez, justamente, pela falta de uma visão mais experiente, temos optado muitas vezes por caminhos tolos e infantis. A série nos lembra que, por trás daquelas rugas, há sabedoria e vida", comenta Fernando Meirelles, diretor-geral da obra.
 
No elenco protagonista, estão os atores Beatriz Segall, Selma Egrei, Joana Fomm, Juca de Oliveira e os cantores Wilson das Neves, Goulart de Andrade e Germano Mathias, músicos da vida real interpretando sambistas na ficção. Também integram o elenco João Cortês, Lima Duarte, Dan Stulbach, Othon Bastos, Elcyr Souza, Silvia Lourenço e João Baldasserini, entre outros.
 
Para entrar no clima: Direção de arte
 
Os diretores de arte Marcos Carvalheiros e Clô Azevedo destacam alguns desafios para compor os diferentes ambientes das histórias da série. Em ‘Assalto’, por exemplo, a dificuldade era filmar em uma agência bancária diante das restrições impostas neste tipo de locação. “À primeira vista, seria melhor construir um cenário, mas perderíamos muito da relação com a rua, fator importante no roteiro”, comenta Carvalheiros. Foi então que a equipe chegou ao edifício estilo art déco da década de 30, antigo Banco de São Paulo, desativado há mais de 30 anos e que é atualmente Secretaria de Turismo do Estado. O lugar era perfeito pela arquitetura monumental, mas não existia nada que caracterizasse uma agência bancária, além dos grandes balcões, apoios centrais, porta giratória e cofre.
 
Para auxiliar na narrativa e dar força à ação do episódio, a equipe de arte construiu elementos como as grelhas de ar condicionado, onde Kléber (João Cortês) esconde as armas; as divisórias de vidro; e os caixas eletrônicos. Com a ajuda da produtora de objetos, Vica Utimura, conseguiram também câmeras de segurança, equipamentos bancários e tudo o que foi preciso para montar uma agência bancária contemporânea. A equipe de produção de arte, coordenada por Guilherme Xavier, também entrou em cena para criar a comunicação visual do lugar. As referências foram buscadas em filmes de ação e assalto a banco, como “O Plano Perfeito”, “Inimigos Públicos”, “Batman: O Cavaleiro das Trevas”, “Corra Lola, Corra”, entre outros.
 
Em ‘Atravessadores do Samba’ o trabalho transitou entre a decadência e o glamour e buscou inspirações no rico universo do samba. “As cores e a magia da música popular do Caribe à Bahia, das rodas de samba e tradições do Rio de Janeiro e de São Paulo, dos casarões da Lapa carioca e do Bixiga paulistano foram as grandes inspirações”, detalha Carvalheiros. A equipe quis mostrar a riqueza e a história que envolve o ambiente da música popular e encontrou como desafio recriar este universo em São Paulo. Para isso, foram usados muitos elementos cenográficos: paredes foram pintadas e ambientes inteiros transformados. A Kombi que acompanha o grupo de sambistas na história recebeu um tratamento da equipe de arte para ficar com a cara do grupo.
 
A diretora de arte Clô Azevedo conta que precisou criar dois universos particulares diferentes em ‘Folhas de Outono’: “Como o episódio trata de mulheres da terceira idade, com histórias de vida diferentes, tentamos criar ambientes realistas, em que, por meio de objetos e do mobiliário, pudéssemos traçar a trajetória de cada uma”. Os quadros que aparecem no ateliê de Maria Helena (Joana Fomm) são da artista Karin Schmyntt.
 
Para o episódio ‘O Primeiro Dia’, história da complicada relação entre Napoleão Roberto (Juca de Oliveira) e seu filho Luiz (Dan Stulbach), foi escolhida a paleta clássica, com mobiliário também clássico e toques femininos para remeter à finada esposa do protagonista. O desafio da direção de arte foi reproduzir as fotos de época. “Foi trabalhoso, pois tivemos que fotografar modelos vestidos com figurinos de época e solicitar fotos antigas do nosso elenco para encaixar nestas reproduções”, explica Clô. 
 
Com tudo em cima: Figurino
 
Apesar do tema comum aos quatro episódios, a figurinista Andrea Simonetti identificou, em cada um deles, pontos muito característicos que mereciam destaque na construção do figurino dos personagens. Em ‘Primeiro Dia’, ‘Folhas de Outono’ e ‘Assalto’, Andrea seguiu a linha naturalista, assim como o estilo e o ritmo da narrativa. Em ‘Atravessadores do Samba’, um episódio mais musical, reinou o estilo vintage com referências cubanas para os quatro amigos músicos.
 
Germano Mathias, Goulart de Andrade, Wilson das Neves e Zé Maria, músicos também na vida real, foram a própria inspiração para o estilo de seus personagens. “Germano Mathias tem muito apego por suas camisas estampadas, então introduzimos suas próprias peças no figurino de seus personagem. E o Goulart adora seus sapatos coloridos, então nós os usamos também”, comenta Andrea. Já as roupas da arrasadora e alegre Celeste (Bibba Chuqui) foram confeccionadas pela equipe da figurinista, que optou por modelagem solta e estampas em cores fortes.
 
Andrea destaca também algumas curiosidades do trabalho, como um pedido especial que surgiu durante a composição do personagem Napoleão Roberto. “O Juca de Oliveira queria fazer uma homenagem ao Paulo Autran, usando os óculos de grau que pertenceram ao amigo. Foi uma honra incorporar a peça ao estilo do personagem”, conta.
 
Em ‘Folhas de Outono’, a transformação de Francisca (Selma Egrei) é muito bem marcada por seu figurino, que acompanha a virada da personagem. No começo do episódio, assim como sua vida, ela usa roupas sóbrias e neutras; aos poucos, vai se trasformando em uma mulher mais solta e leve, com roupas mais ousadas e claras.
 
Entre pesquisas de referências, criação dos figurinos e execução para a gravação das cenas, Andrea Simonetti lembra com carinho do que mais a marcou em ‘Os Experientes’. Como se o seu trabalho fosse uma extensão  da obra, quase um quinto episódio. “Tenho uma lembrança maravilhosa de todos os atores, da energia deles, do empenho e da incrível experiência que eles têm. A gente aprende muito trabalhando com atores como eles, que já fizeram de tudo, mas que ainda têm muito a acrescentar e ensinar”. 
 
“A Ilha do Nunca não existe”: Locação
 
Ambientada em São Paulo, a série foi gravada em lugares emblemáticos da cidade, mas, como o próprio diretor-geral Fernando Meirelles frisa, qualquer lugar do mundo poderia ter servido de locação.
 
O antigo Banco de São Paulo, um importante edifício de estilo art déco da década de 1930, serviu de locação para o episódio ‘Assalto’. Localizado no centro da capital paulista, foi o cenário perfeito para um assalto desastroso. Além do banco, o centro antigo da cidade é rapidamente visitado no episódio ‘O Primeiro Dia’, quando o personagem Napoleão Roberto (Juca de Oliveira) faz um longo passeio de carro ao lado do filho. Para ‘Atravessadores do Samba’, as cenas foram rodadas em famosas casas de show paulistanas. E, em ‘Folhas de Outono’, São Paulo é levada para dentro dos apartamentos de Francisca (Selma Egrei) e Maria Helena (Joana Fomm).
 
Fernando Meirelles lembra que, apesar da série se passar em São Paulo, as histórias poderiam acontecer em qualquer lugar. “Envelhecer é uma ideia ou um fato universal. A Ilha do Nunca, infelizmente, parece não existir. Somos todos como o Capitão Gancho, apavorados com aquele crocodilo que faz tic-tac sem parar”, brinca o diretor, ao fazer referências à história de Peter Pan.
 
Entrevista com o diretor-geral Fernando Meirelles
 
Fernando Meirelles não é só um diretor. É, na verdade, um arquiteto que passou a dirigir programas independentes para TV nos anos 1980, comerciais nos anos 1990 e, finalmente, longas-metragens no século XXI. Seu terceiro longa-metragem, “Cidade de Deus”, atraiu mais de três milhões de telespectadores no Brasil, se tornando a maior bilheteria de 2002. Pela produção, Fernando Meirelles recebeu indicação para o Globo de Ouro de Melhor Filme Estrangeiro e quatro indicações ao Oscar, incluindo de Melhor Diretor.
 
Depois de inúmeras indicações e prêmios, Fernando dirigiu, entre agosto e novembro de 2014, a aplaudida minissérie ‘Felizes para Sempre’, de Euclydes Marinho, exibida na Globo em janeiro deste ano. Atualmente, além de ‘Os Experientes’, Fernando está produzindo os filmes “Exodus” e “Zoom”.
 
Quando seu filho, Quico Meirelles, apresentou a ideia do projeto, uma série sobre velhice, o que você pensou? 
 
Comprei a ideia no ato, não só pela possibilidade de poder trabalhar com atores e atrizes que admiro há muito tempo, mas pelo tema em si que me mobiliza. Estou quase com 60.
 
A série tem quatro episódios independentes, mas o tema é único: a velhice. Qual é o principal diferencial entre eles? 
 
São episódios bem diferentes entre si, no estilo e na história. O ‘Assalto’ tem uma lado de ação e é sobre uma mulher que, sem querer, acaba revendo um trauma do passado. ‘Atravessadores do Samba’ é quase um musical, pois as canções conduzem a trama, que fala sobre amizade. ‘O Primeiro Dia’ é uma comédia triste sobre o encontro de um pai com seu filho, quando se entendem pela primeira vez. E ‘Folhas de Outono’ usa a música de Nat King Cole como tema, é mais romântico. 
 
Historicamente, a velhice nos séculos XVIII, XIX e início do século XX, era valorizada. O passar do tempo representava tradição, respeito e seriedade, mas hoje os mais velhos são quase invisíveis, tratados com indiferença.  A Yolanda, por exemplo, resolve o assalto praticamente sozinha e, no final, continua sendo vista como uma senhorinha indefesa. Por que é importante discutir o assunto? 
 
Pois é, a experiência perdeu a respeitabilidade que tinha e que merece. Um camarada mais velho não sabe mais ligar a sua TV, não usa pen drive, não lê blogs, não está nas redes sociais.  Acho que este mundo digital faz a garotada acreditar ilusoriamente que, por não saberem usar aplicativos, seus avós não têm nada de útil a ensinar.  A arrogância juvenil é do tamanho da Ásia, mas a tolerância dos seus avós é do tamanho do planeta. 
 
Como foi a seleção do elenco? E como foi dirigir atores tão experientes, com média de faixa etária entre 70 e 80? 
 
A Selma Egrei é minha amiga e é a mais jovem do elenco, foi tranquilo. Mas dirigir a Beatriz Segall ou a Joana Fomm, de quem sou fã há anos, foi um pouco intimidador no começo. Confesso. O mesmo com o Othon Bastos, com quem rodei apenas uma cena, mas ele estava tão à vontade que o gelo se quebrou no ato. A Karen Rodrigues, depois de três segundos, já parecia uma tia com quem eu havia convivido a vida toda. Adorei poder ter incluído o Goulart de Andrade no elenco, foi ele quem me colocou na televisão na década de 80. Dívida paga.
 
Entrevista com o diretor-geral Quico Meirelles
 
Quico Meirelles nasceu em 1988. Filho de mãe bailarina e pai cineasta, cresceu frequentando o meio artístico, indo a espetáculos de dança, teatros e, especialmente, a sets de filmagem.
 
Formado pelo curso de Audiovisual da Universidade de São Paulo, trabalhou como assistente de direção do longa-metragem “Ensaio sobre a Cegueira” (2008) e na série da Globo ‘Som e Fúria’ (2009). Quico também foi assistente de câmera dos filmes “Xingu” (2011) e “360” (2011). Dirigiu episódios das séries “Trabalho Duro” (Discovery Channel, 2012) e “Contos do Edgar” (FOX, 2013), além de comerciais para televisão.
 
De onde surgiu a ideia para a série?
 
Eu tenho uma relaçao muito próxima com meus avós e gosto muito do universo da terceira idade, por isso quis fazer um projeto sobre e para eles, os idosos. Acho que, atualmente, existem poucas produções e oportunidades para quem tem mais de 70 anos ou para quem gosta do tema. E o assunto é tocante. Não é porque eles têm 70, 80 anos que a vida acabou. Acho que nunca é tarde para viver e que ainda podem acontecer coisas muito boas na vida deles; eles ainda podem se emocionar.
 
Existe um gap entre a sua idade e a idade dos atores, que gira em torno de 70 e 90 anos. Como foi a experiência de ser tão jovem e dirigir um elenco tão experiente?
 
Foi um pouco apavorante, confesso. Esta foi minha primeira grande produção. E o episódio que dirijo, ‘O Primeiro Dia’, tem no elenco o Juca de Oliveira, o Othon Bastos, o Lima Duarte. Imagina, eu, um moleque de 24 anos na época, dirigindo estes atores que fizeram a história da TV e do cinema brasileiro, todos com cerca de 60 anos de experiência! Foi uma honra rodar com eles. 
 
E como foi dividir a direção geral com seu pai? 
 
Foi muito legal, eu o conheço já faz um certo tempo (risos). Nós pensamos parecido. Desde que nasci, acompanho o trabalho dele, a forma como ele lida com seu trabalho e toca as coisas. Acho que eu acabei incorporando o jeito dele.
 
 
Entrevista com a diretora Gisele Barroco
 
Cineasta e atriz, Gisele Barroco trabalhou com teatro, dança, fotografia e arte-educação. Em cinema, passou pela pós-produção, montagem e entrou para a O2 Filmes como assistente de Fernando Meirelles em 1990. É diretora de cena desde 1995. Fez mais de quinhentos filmes publicitários, vários premiados. Em 2012, foi uma das convidadas da ‘Rio + 20’, na direção dos documentários "Mamiráua", sobre a reserva de desenvolvimento sustentável no Amazonas, e "Invísíveis", sobre inclusão social. Já trabalhou como diretora nas séries da Globo ‘Antonia’ e ‘Som e Fúria’. E agora dirige o episódio ‘Atravessadores do Samba’, de ‘Os Experientes’.
 
Todo trabalho é diferente um do outro, mas este, em especial, significou o que para você?
 
Acho que foi um dos trabalhos mais incríveis da minha vida. Tive que entrar no universo do samba, que eu não conhecia tão bem. Também participei da seleção e da preparação do elenco, pois optei por filmar com sambistas de verdade no lugar de atores. O universo do samba é peculiar no imaginário, no jeito de falar, nas gírias que eles usam, e eu queria que o episódio ficasse verdadeiro. Além disso, acho que o grande barato desta série era poder honrar a história desses músicos também. O processo todo foi bastante intenso!
 
Como foi dirigir um elenco formado por músicos pra lá de “experientes”? E como foi trabalhar com Wilson Baptista, Germano Mathias, Goulart de Andrade e Zé Maria?
 
Foi muito especial e acho que, sendo músicos, eles se saíram muito bem como atores. Os quatro se esforçaram para entender o universo da dramaturgia e até fizeram uma preparação para treinar a fala e a interpretação. Cada um tem uma personalidade bem particular, foi maravilhoso conviver com eles. Nós ficamos muito felizes com o resultado. Além do mais, sinto que ter convidado estes artistas, tão queridos da nossa música para integrar o elenco, foi uma forma de reconhecer a importância deles para a nossa cultura.
 
Entrevista com Antônio Prata, autor de ‘Assalto’
 
Antonio Prata nasceu em São Paulo, em 1977. Tem dez livros publicados, entre eles “Meio intelectual, meio de esquerda”  e “Nu, de botas”.      Em 2013, foi selecionado pela revista Granta como um dos 20 melhores jovens escritores brasileiros. Prata é cronista e também roteirista de cinema e TV. Na Globo, colaborou no roteiro de novelas como ‘Avenida Brasil’. E assina o episódio ‘Assalto’, em ‘Os Experientes’.
 
A personagem de Beatriz Segall, Yolanda, contraria os estereótipos estipulados pela sociedade. Ela não é indefesa ou dependente, por exemplo. Em que você se baseou para escrever este personagem? 
 
Eu quis fazer um episódio em que apresentássemos a personagem velhinha exatamente segundo os estereótipos: frágil, deslocada no mundo contemporâneo, quase uma figurante nas situações em que há gente mais nova. E, ao longo do episódio, mostrar a força desta mulher.
 
O Kléber, personagem de João Cortês, trata a Yolanda (Beatriz Segall) por “velha” o tempo todo, assim como os policiais, que não a respeitam em momento nenhum. O que você quis mostrar com estes personagens? 
 
Quis mostrar como os velhos são invisíveis. Eu reparo nisso, muitas vezes. Numa festa, quando há um idoso, as pessoas jovens passam sem vê-lo. Cumprimentam os mais jovens e pulam os mais velhos. Ou contam uma história só olhando pros mais jovens, ignorando aquela presença. Quando o enxergam, não enxergam uma pessoa, um indivíduo, mas só a velhice, como se ali não houvesse uma personalidade, singularidades, história. Falam: “Estavam lá João, engenheiro, Marcinha, publicitária, Henrique, “super engraçado” -- e um velho”.
 
Quis frisar esse ponto. Tanto é que a primeira negociação de Yolanda com Kléber é para ele parar de chamá-la de velha.
 
Enquanto isso, Yolanda tem plena consciência de que a tratam de forma infantilizada e quase debilóide. Ela chega a debochar, sem que os outros percebam, deste tratamento. O que mais te atrai neste personagem e quais foram suas inspirações? 
 
Me atrai a passagem deste personagem figurante, frágil, invisível, a protagonista, herói, poderoso. A transformação da "velha" na médica e ex-guerrilheira, aos olhos do assaltante e do público. Concomitante a isso, vamos nos aprofundando no personagem de Kléber, entendendo o que ele faz ali, suas motivações.
 
Você acredita que o público “experiente” de casa vai se identificar com a Yolanda? 
 
Tomara que sim. Não se identificar no sentido de "eu também poderia resolver um assalto e salvar sei lá quantas vidas", mas no sentido de "eu também tenho uma história rica e muitas qualidades que gostaria que fossem percebidas pelos mais jovens”.
 
 
Entrevista com Marcio Alemão, autor de ‘Folhas de Outono’, ‘Atravessadores do Samba’ e ‘Primeiro Dia’
 
Como publicitário, o paulistano Marcio Alemão criou e roteirizou mais de 1200 filmes. Entre eles, “Viva Voz”, com Paulo Morelli na direção, e “Caixa Dois”, uma adaptação da peça de Juca de Oliveira, para o diretor Bruno Barreto. Na Globo, colaborou como roteirista em ‘Comédia da Vida Privada’ e ‘Sai de Baixo’. Alemão também assinou o roteiro de dois episódios da série ‘O Amor em 4 atos – Folhetim e vitrines’, dirigido por Bruno Barreto. Para a série ‘As Brasileiras’, escreveu o episódio dirigido por Cris Damato, ‘A sexóloga de Floripa’, e ‘A culpada de BH’, com direção de Tizuka Yamazaki. Aqui, assina três episódios da série ‘Os Experientes’.
 
Três dos quatro episódios da série foram escritos por você. O tema é único: a velhice. Qual é o principal diferencial entre eles? 
 
‘O Primeiro Dia’ fala sobre a relação pai e filho. O ‘Folhas de Outono’ mostra o amor, que decide fazer uma visita tarde da noite. E no ‘Atravessadores do Samba’ vamos conhecer a vida de quatro amigos que passaram a vida trabalhando juntos e sonhando juntos, até que a morte apanha um deles.
 
A relação entre Napoleão e o filho é praticamente a de dois estranhos, até o dia em que eles realmente param para conversar e se conhecer. Que mensagem você gostaria de passar para o público com esta trama? 
 
Várias seriam aceitáveis, mas a que realmente me encanta é: tente rir mais com o seu filho.
 
Em ‘Atravessadores do Samba’ um grupo de samba “experiente” está em plena atividade. Curiosamente, mas também propositalmente, os atores são músicos da vida real e tem a idade dos personagens.  Você participou da escalação do elenco? Como foi trabalhar com estes atores?
 
Participei da escalação e apoiei a ideia da diretora Gisela Barroco de investir em músicos de verdade. Eu sugeri o Germano Mathias e os demais vieram do casting da O2. Do que acompanhei, posso dizer que foi muito trabalhoso, mas foi muito rico.

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